Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de abril de 2025
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) precisou ser submetido a uma cirurgia “extensa” e de “grande porte” para remover aderências e reconstruir a parede abdominal.
O cardiologista Leandro Echenique, que acompanha Bolsonaro, destacou que procedimentos do tipo podem levar “a uma série de intercorrências”.
“Há o aumento do risco de algumas infecções, de precisar de medicamentos para controlar a pressão. Há um aumento do risco de trombose, problemas de coagulação do sangue…”, detalhou o médico durante entrevista coletiva nessa segunda-feira (14).
Echenique acrescentou que o pós-operatório de Bolsonaro será “muito delicado e prolongado” e que não há previsão de alta.
Bolsonaro apresentou sinais de que tinha algo mais grave na última sexta-feira (11), quando participava de eventos em algumas cidades do interior do Rio Grande do Norte.
O ex-presidente sentiu fortes dores no abdômen, apresentou dificuldades para comer e na digestão e foi internado às pressas. Ele foi transferido para Natal, a capital do Estado, e depois levado numa UTI móvel até Brasília, onde passou pela cirurgia.
Bolsonaro apresenta frequentes obstruções intestinais, que estão relacionadas à facada que ele sofreu em Juiz de Fora (MG), durante a campanha das eleições de 2018.
Médicos explicam que o surgimento das tais aderências — uma espécie de cicatriz fibrosa — pode acontecer diante de qualquer procedimento nessa região do corpo.
Mas não se sabe ao certo os fatores que levam a esse quadro ou os motivos de alguns pacientes o desenvolverem e outros não.
Quem apresenta aderências e sofre com quadros de obstrução intestinal, como Bolsonaro, costuma ser tratado de forma conservadora, com jejum e sondas, mas podem precisar de cirurgias para resolver o problema.
No entanto, esses procedimentos aumentam o risco de novas aderências — e de novas intervenções.
Causa
Em 6 setembro de 2018, Bolsonaro participava de um evento de campanha em Juiz de Fora (MG) quando sofreu um atentado a faca.
O golpe acertou o abdômen do então candidato, que foi rapidamente enviado a uma unidade de saúde e, depois, a um centro cirúrgico, onde passou pelas primeiras intervenções. No dia seguinte, Bolsonaro foi transferido para um hospital em São Paulo, onde passou por uma segunda cirurgia em 12 de setembro.
O objetivo era retirar as primeiras aderências — uma espécie de cicatriz fibrosa que surgiu após a primeira operação — que obstruíam seu intestino.
Os cirurgiões aproveitaram o procedimento para corrigir uma fístula — um canal de comunicação anômalo que surge no corpo — desenvolvida em uma das suturas feitas durante a primeira operação.
O médico Raphael Di Paula explica que as aderências podem surgir quando o peritônio, uma membrana que reveste o interior do abdômen, é violado.
“Toda vez que você entra na cavidade abdominal para fazer qualquer procedimento, dos mais simples aos complexos, pode gerar processos aderenciais”, comenta o médico, que não esteve envolvido diretamente com o caso de Bolsonaro.
Uma das únicas razões, segundo ele, são as perfurações intestinais — quando as paredes desse órgão sofrem algum tipo de rompimento e parte do conteúdo interno extravasa para o resto do abdômen.
Recorrência
Em janeiro de 2019, já no cargo de presidente, Bolsonaro fez uma terceira cirurgia — dessa vez, para retirar a bolsa de colostomia que coletava as fezes a partir de um orifício aberto no abdômen.
Na ocasião, os médicos constataram uma grande quantidade de aderências no sistema digestivo dele. Na prática, o processo de cicatrização pós-cirúrgico estava fazendo com que trechos do intestino dele se colassem.
Mas isso traz um problema: os intestinos realizam uma série de movimentos para “empurrar” a comida, digerir os nutrientes e descartar o que sobra na forma de fezes.
As aderências, no entanto, “prendem” ou “amarram” esses órgãos, deixando-os sem a mobilidade necessária para funcionar adequadamente. Isso pode gerar dobras no tubo digestivo que impedem a passagem de alimentos e enzimas muito importantes.
Bolsonaro ainda passou por operações para corrigir hérnias — pequenos escapes do intestino na parede abdominal relacionadas às inúmeras incisões e intervenções — em setembro de 2019 e setembro de 2023.
Essas operações também aumentam o risco de novas aderências no futuro.
Por um lado, elas são necessárias para resolver a obstrução intestinal e restabelecer o fluxo do sistema digestivo.
Por outro, em pacientes que já tem histórico, elas representam um risco de novos processos de fibrose e formação de cicatrizes — que, por sua vez, podem diminuir ainda mais a mobilidade do abdômen e causar novas obstruções.
“Quanto mais o peritônio é violado, quanto mais mexemos nessas alças intestinais e no abdômen, maior o risco de novas aderências. A tendência é que elas fiquem mais fortes, firmes e complicadas”, lembra Di Paula. (Com informações da BBC Brasil)