Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de novembro de 2025
O Sul do Brasil concentra as condições atmosféricas mais favoráveis para a formação de tornados. Segundo pesquisadores, o fenômeno é resultado da interação entre diferentes massas de ar e da configuração geográfica da região, que cria um ambiente propício para tempestades severas.
Três fatores principais explicam essa maior ocorrência: o transporte de umidade vindo da Amazônia — conhecido como “rio atmosférico” —, o avanço de massas de ar frio que se deslocam da Argentina e o contraste térmico gerado pelo encontro dessas duas correntes. Essa combinação gera um fenômeno chamado cisalhamento vertical do vento, caracterizado pela diferença na velocidade e direção dos ventos em diferentes altitudes. Quando essa diferença se intensifica, o ar começa a girar e pode dar origem a tempestades rotativas — condição que antecede a formação de tornados.
“Nós temos uma combinação de fatores. A cerca de 1.500 metros de altura, ocorre o transporte de umidade desde a Amazônia até o Sul do Brasil, conhecido como rios atmosféricos. É como se houvesse um empoçamento de umidade na região”, explica Ernani Lima, especialista em tornados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Somado a isso, há a incursão de massas de ar polares vindas da Argentina, que trazem ar mais frio e seco. Esse contraste gera o cisalhamento vertical do vento, ou seja, a intensificação do vento com a altura — condição que favorece o surgimento de tempestades rotativas.”
De acordo com o meteorologista Francisco Eliseu, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Sul funciona como um verdadeiro corredor atmosférico. “É ali que a atmosfera entra em choque de maneira mais intensa. Quando há calor, umidade e vento em diferentes direções e velocidades, o ar começa a girar — e esse giro pode se transformar em um tornado”, explica.
O relevo também desempenha papel importante. As planícies e áreas próximas à Serra Geral facilitam o surgimento de correntes de ar ascendentes, que ajudam a alimentar tempestades. Esses fatores tornam o fenômeno mais comum na primavera e no verão, quando o calor aumenta e o contraste entre as massas de ar quente e fria se intensifica.
Nos últimos anos, a região Sul registrou episódios mais frequentes e intensos. Em 2024, por exemplo, Santa Catarina contabilizou mais de dez tornados confirmados em menos de quatro meses — o maior número do país no período, segundo dados da Epagri/Ciram. No mesmo ano, cidades do Rio Grande do Sul, como Cruz Alta, Encantado e São Leopoldo, foram atingidas por ventos que ultrapassaram 150 km/h, provocando destruição e deixando rastros visíveis da força desses fenômenos.
Os especialistas afirmam que, embora o Brasil não esteja entre os países mais atingidos por tornados no mundo, como os Estados Unidos, a tendência é de que os eventos extremos se tornem mais frequentes e intensos com o avanço das mudanças climáticas. No Sul, onde os contrastes atmosféricos são mais marcantes, o risco tende a permanecer elevado, exigindo atenção constante de meteorologistas e órgãos de defesa civil.