Segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 6 de abril de 2024
A perspectiva de uma política monetária mais conservadora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), após indicadores de atividade, inflação e mercado de trabalho mais fortes nos Estados Unidos no primeiro trimestre, levou a uma apreciação ampla do dólar em relação às principais moedas pares. Embora o mercado mantenha a sua previsão de que o Fed começará a cortar os juros neste ano, a resiliência da economia aponta para uma divisa americana mais apreciada no curto prazo.
Desde o começo de 2024, o DXY, índice que mede a variação do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, passou da casa de 102 pontos e chegou a bater 105 pela primeira vez desde novembro do ano passado. Para Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, o movimento deixou a história de “excepcionalismo” da economia americana já bem precificada, mas não há um gatilho para derrubar o dólar tão cedo.
“Nossa visão de câmbio contra o consenso tem sido mais alinhada com um dólar forte. No ponto em que estamos hoje, a novidade está mais para o outro lado”, diz Caruso, que acredita que os dados melhores da zona do euro e da China indicam uma recuperação da atividade global. Isso, por sua vez, tiraria força da ideia de que os Estados Unidos crescem sozinhos entre as principais economias globais.
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brazil Wealth Management, tem visão diferente e considera que a economia americana segue mais forte tanto em termos absolutos quanto em relativos. “O câmbio nominal não é só o preço relativo entre duas moedas, como também entre duas histórias. E a história americana é bem melhor que a dos pares”, diz.
Segundo ele, o mercado não está incerto apenas sobre o momento do início do ciclo de cortes nos Estados Unidos, como também sobre o ritmo dos cortes e o patamar dos juros ao fim do ciclo.
Na última atualização do Sumário de Projeções Econômicas, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed aumentou sua projeção de taxa de juros neutra – que não impulsiona nem contrai a atividade econômica – pela primeira vez desde 2022, de 2,5% a 2,6%. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou recentemente que vê a taxa neutra dos Estados Unidos perto de 3%.
Para a chefe em estratégia de câmbio do Rabobank, Jane Foley, o dólar tem espaço para subir mais contra outras moedas desenvolvidas. Ela destaca que o mercado já não está mais confortável com a possibilidade do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) começar a cortar os juros depois do Fed e que a economia da zona do euro enfrenta um problema estrutural difícil de resolver – que mantém a Alemanha, maior economia do bloco, estagnada.
Euro
Foley prevê que o euro oscile em torno de US$ 1,05 pelos próximos três meses. Se Fed, Banco Central Europeu (BCE) e BoE começarem a cortar juros ao mesmo tempo, o movimento do dólar vai depender dos indicadores dos Estados Unidos, segundo ela. “Se os EUA mantiverem-se resilientes, o dólar pode muito bem continuar forte. Mas se houver uma recessão técnica, o que é bem possível, o dólar deve sofrer”, diz. Ainda assim, ela não acredita em um dólar fraco, mas apenas numa tendência de alta suavizada.
Assim como Foley, o chefe global de câmbio do banco Jefferies, Brad Bechtel, acredita que um movimento de busca por segurança foi outro fator a favorecer o dólar recentemente. A estrategista do Rabobank cita que os preços do petróleo e do ouro subiram junto do dólar, o que indica que as tensões geopolíticas no Oriente Médio e no Leste Europeu tiveram algum efeito sobre a moeda americana.
Eleições
Outro fator que pode afetar o dólar na segunda metade do ano são as eleições presidenciais, que vão colocar o incumbente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump em disputa pela Casa Branca pelo segundo pleito seguido.
O aumento da volatilidade e a redução das operações de “carry trade” (quando se toma dinheiro mais barato em um mercado e se aplica em outro, com taxas mais altas) à medida que o pleito se aproxima sugerem um fortalecimento do dólar, diz Bechtel. Ele acredita, no entanto, que as eleições americanas serão mais determinantes para as moedas beneficiadas pelo “carry trade”, como o peso mexicano, e não tanto para o dólar.
Caruso aponta para a perspectiva de um governo e Congresso novamente divididos nos Estados Unidos e posições geopolíticas e de comércio internacional mais acirradas tanto do presidente Joe Biden, que tenta a reeleição, quanto a do republicano Donald Trump como fatores que sugerem um dólar mais forte. Olivares, por outro lado, cita o perfil fiscal expansionista de ambos como uma força que pode depreciar a moeda americana.
Segundo Foley, a imposição de tarifas comerciais dos Estados Unidos em um novo governo Trump é o principal risco de alta para o dólar. “Isso provavelmente aumentaria a inflação, e o Fed não poderia cortar os juros como faria em outro cenário.”