Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de abril de 2022
No final de março, o Ministério da Saúde ampliou a aplicação da quarta dose para idosos a partir de 80 anos. Como estados e municípios têm autonomia para adotar medidas contra a covid, diversas unidades federativas já haviam se antecipado e ampliaram o segundo reforço para todos os idosos a partir de 60 anos de idade. Alguns foram além e incluíram profissionais de saúde, independente da idade.
Todas essas diferenças geram dúvidas não só sobre o público-alvo, mas também sobre o intervalo de aplicação. O Ministério da Saúde recomenda um intervalo mínimo de quatro meses entre o primeiro e o segundo reforço. Estudos mostram que a proteção conferida pela vacina começa a cair entre quatro e seis meses após a aplicação.
De acordo com o geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, é consenso que a quarta dose deve ser aplicada quatro meses depois da terceira para quem tem mais de 80 anos.
“Essas pessoas naturalmente têm a senescência celular e, por isso, estariam realmente desprotegidas depois de quatro meses da terceira dose e porque o estudo de Israel, o único já publicado sobre o assunto, mostrou que nesse intervalo, há aumento da proteção. Isso não significa que não ter proteção nenhuma, mas ela cai muito justamente em um grupo mais vulnerável às complicações da doença”, explica o médico.
Para os demais públicos, até mesmo imunocomprometidos, não há consenso. Ao menos não em relação à faixa etária que poderia realmente se beneficiar de um segundo reforço.
“Não se sabe se pessoas com o problema e menos de 60 anos precisam do reforço”, diz Raskin.
Apesar da controvérsia, no Brasil, o Ministério da Saúde também liberou a quarta dose para todos os indivíduos imunocomprometidos, a partir de quatro meses após o primeiro reforço. Além disso, especialistas acreditam que ampliar a quarta dose para idosos a partir de 60 anos e para pessoas imunocomprometidas, é necessário. Em especial no Brasil, onde muitas dessas pessoas receberam a CoronaVac, uma vacina que confere proteção por menos tempo, em especial em pessoas com dificuldade no sistema imunológico.
Segundo Raskin, a orientação prática mais aceita atualmente em relação ao intervalo mínimo para a quarta dose em pessoas com mais de 60 e menos de 80 anos é de seis meses.
“A princípio, esse esquema parece oferecer melhor proteção porque a pessoa esperaria todo o efeito de imunização da terceira dose para então aplicar a quarta”, afirma o médico.
Imunidade híbrida
Mas e quem pegou covid entre a terceira e quarta dose? Deve esperar quanto tempo? A recomendação atual é esperar um mês após a infecção para tomar a vacina. Mas, a diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), Rochelle Walensky, disse que pessoas que estão elegíveis à quarta dose e foram infectadas pelo coronavírus no intervalo entre os reforços podem esperar de dois a quatro meses após a infecção para receber a injeção extra.
Diversos estudos já mostraram que a proteção híbrida, conferida pela vacina e pela infecção do vírus, protege mais do que apenas a vacina. Mas essa é a primeira vez que o CDC admite que a imunidade natural poderia substituir a imunidade induzida pela vacina, mesmo que apenas temporariamente.
“Se você teve doença [causa pela] ômicron nos últimos dois ou três meses, isso realmente impulsionou seu sistema imunológico muito bem”, disse Walensky.
Para Raskin, a recomendação faz sentido.
“A cada dia que passa, fica mais evidente que a imunidade híbrida é super importante. Países como a Coreia do Sul, onde a proteção focou na vacinação e poucas pessoas contraíram a doença, sofreram barbaridade com a ômicron. Isso mostra que só a vacina também não é o melhor dos mundos. Daí vem esse conceito de que em pessoas com três doses, a infecção pela ômicron funcionaria como um reforço”, ressalta o médico.