Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de novembro de 2025
O principal alvo da megaoperação policial realizada na semana passada no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, conseguiu escapar. Chefe do CV (Comando Vermelho), Edgar Alves Andrade, conhecido como Doca ou Urso, é temido até por comparsas e possui uma longa ficha criminal e 26 mandados de prisão expedidos pela Justiça.
O criminoso, de 55 anos, nasceu na cidade de Caiçara, na Paraíba. Ele chegou ao Rio nos anos 1990, onde entrou para o tráfico no Morro São Simão, em Queimados, na Baixada Fluminense.
Segundo as autoridades, Doca impõe seu poder na comunidade à força, por meio da “lei do silêncio”, com o extermínio de desafetos e de moradores. Ele foi preso uma única vez: em 2007, no dia de seu aniversário, depois de mais de 11 horas de troca de tiros com a polícia na Vila Cruzeiro.
Nove anos depois, em 2016, Doca foi solto e voltou ao crime. Ele recebeu do então chefe do CV, Elias Maluco, a tarefa de gerenciar um ponto de venda de drogas no Complexo da Penha. Com a morte de Elias e de outros chefes em 2020, Doca chegou ao posto mais alto do Complexo da Penha, área considerada o “coração” do CV.
Doca registra 269 anotações criminais por tráfico de drogas, roubo, extorsão, corrupção de menores e organização criminosa. Segundo a polícia, ele cometeu dezenas de assassinatos. A Justiça já expediu 26 mandados de prisão contra o criminoso.
As investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil apontam que Doca está abaixo apenas do número 1 da facção, o traficante Marcinho VP, que se encontra preso na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Doca montou uma estratégia de guerra para evitar ser capturado e conta com um “exército do crime”. Esse grupo treinado é conhecido como a “Tropa do Urso”, que amplia o uso de barricadas nas áreas que domina, dificultando a entrada da polícia. O bando também usa drones para vigiar pontos estratégicos.
Nomes conhecidos da “Tropa do Urso”
– O braço direito de Doca é Carlos Costa Neves, conhecido como Gardenal. Ele tem autorização para matar os rivais.
– Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, cuida da parte operacional do grupo.
– A segurança de Doca é organizada por Washington César Braga da Silva, o Grandão ou Síndico da Penha.
– Em um vídeo obtido pela polícia, Juan Breno Ramos, o BMW, ensina um adolescente a atirar, em um treinamento para novatos. Durante o treino, é possível ouvir: “Brabo! É isso menor!”.
A tropa de Doca aterroriza rivais e moradores da Penha. O grupo também teria sido responsável pelo ataque a uma delegacia em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em abril. Comparsas de Doca metralham o local para tentar resgatar um traficante do bando, mas o preso já estava em outra unidade da polícia.
Nos últimos anos, eles tomaram áreas historicamente dominadas por milícias, no chamado cinturão de Jacarepaguá, na Zona Oeste. Em outubro de 2023, bandidos armados atacaram um grupo de médicos em um quiosque na praia da Barra da Tijuca. As investigações apontam que os assassinos confundiram um dos médicos com o chefe de uma milícia. Três pessoas morreram baleadas. Segundo a polícia, Doca autorizou o ataque e, depois de saber do “erro” dos executores, mandou matá-los.
Além do tráfico de drogas, a facção de Doca cobra taxas de transporte, energia, água, internet e gás de cozinha dos moradores. Doca também implanta negócios dentro das comunidades, como um posto de combustíveis improvisado no Complexo da Penha.
A polícia do Rio diz que acompanhou a movimentação de Doca por pelo menos um ano até a operação da semana passada. O governador do Rio, Cláudio Castro, afirmou que a polícia sabia onde ele estava escondido, mas não conseguiu prendê-lo. Doca, BMW e Gardenal estão foragidos.