Quinta-feira, 02 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de outubro de 2025
A relação entre a pílula anticoncepcional e a libido das mulheres sempre foi complicada. A pílula deu início a uma nova era de autonomia sexual, mas, para algumas mulheres, os próprios hormônios sintéticos que impedem a gravidez também podem ter suprimido a libido.
A primeira pílula anticoncepcional foi aprovada nos Estados Unidos em 1960 pela FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos). Foi um passo sem precedentes na medicina e no planejamento familiar, dando às mulheres a capacidade de controlar sua fertilidade. As mulheres podiam ter relações sexuais sem o medo de uma gravidez indesejada.
Com o tempo, a pílula também passou a ser associada a uma maior liberdade sexual e autonomia corporal, especialmente para as mulheres. Mas, embora seja 99% eficaz como contraceptivo, a pílula não é uma forma segura de se proteger contra infecções sexualmente transmissíveis.
Tesão zero
Mariel*, que é do Chipre e mora na Holanda, começou a tomar a pílula há oito anos, quando tinha 20. Antes de aderir ao método contraceptivo, ela estava frequentemente “com tesão”, como ela mesma define.
“Eu queria ter mais relações sexuais e mais seguras”, disse Mariel. “Mas a maioria das minhas relações sexuais no início não era motivada pela libido, mas mais porque eu podia, quase independentemente da minha libido.” Só mais tarde Mariel percebeu que a pílula havia diminuído seu desejo.
Uma grande revisão de 36 estudos envolvendo mais de 13 mil mulheres em 2013 descobriu que cerca de 15% das participantes relataram uma queda na libido enquanto usavam a pílula.
Desde então, poucos foram os esforços para tentar explicar o motivo, e os resultados existentes parecem ser contraditórios. Isso pode ter a ver com o fato de que os estudos são difíceis de serem comparados – embora a pílula geralmente contenha os hormônios estrogênio e progesterona, há variações na quantidade de cada um deles, o que pode levar a efeitos colaterais variados.
Em 2016, um ensaio clínico sobre o tema contou com 340 mulheres, uma parte delas tomando a pílula e a outra, um placebo. No geral, as participantes não notaram mudanças significativas em sua atividade sexual, mas as mulheres que tomavam a pílula relataram níveis mais baixos de desejo, excitação e prazer.
Pesquisadores acreditam que isso pode ser devido ao efeito da pílula sobre a testosterona. A pílula aumenta os níveis de globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), proteína que se liga à chamada testosterona livre no corpo. A testosterona livre proporciona o desejo sexual. Quando a SHBG se liga à testosterona livre, ela a neutraliza e, como resultado, reduz a libido.