Sábado, 26 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de julho de 2025
Vice-presidente da República de 2019 a 2022, o general da reserva e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse que, caso não tivesse sido preterido por Walter Braga Netto na chapa governista na eleição passada, Jair Bolsonaro (PL) teria sido reeleito.
Assim, acrescentou, nem o ex-presidente nem Braga Netto viveriam hoje o calvário do processo em que respondem por tentativa de golpe, no qual ambos são réus – o segundo, também general da reserva, está preso há mais de sete meses em uma unidade militar no Rio.
“Quando o Bolsonaro escolheu, não quis mais que eu fosse o vice dele, ele deixou de me chamar para reunião ministerial, eu não participei de mais nada. Eu acho que, se eu tivesse sido o candidato a vice dele, nós teríamos ganho”, afirmou Mourão.
O senador-general respondia a uma pergunta da reportagem sobre se ter sido escanteado acabou sendo uma bênção para ele. Depois de dar a resposta inusitada, Mourão foi indagado quanto à situação hipotética que apresentou. Em caso de vitória governista, então o que Bolsonaro, Braga Netto e outros militares enfrentam agora não estaria acontecendo?
“Nada, não tinha acontecido nada, estava todo mundo feliz da vida, pô”, retrucou, entre risos.
A reportagem pediu para Mourão discorrer mais a respeito do tema, explicando o que o leva a crer que se fosse ele o vice em 2022 o resultado teria sido diferente, mas ele não respondeu.
A postura revela como o senador busca se diferenciar de Braga Netto, de quem é amigo há mais de 40 anos e que tem defendido publicamente.
Mourão é um raro caso de general da cúpula do governo Bolsonaro a não ter se encrencado judicialmente por causa das conspirações golpistas no final do mandato.
Na ação que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), o senador foi indicado como testemunha por quatro réus: os também generais Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira e mais Bolsonaro.
Todos integram o núcleo 1 do processo, denunciados pela Procuradoria-Geral da República como líderes da organização criminosa que tramou um golpe para impedir a posse de Lula.
No depoimento à Corte, em 23 de maio, Mourão contou que se reuniu algumas vezes com os réus durante a transição de governo, mas que jamais ouviu menção a medidas de ruptura institucional ou para contestar o resultado eleitoral.
Aproveitou para elogiar Braga Netto: “Nossas famílias são amigas”; “construiu uma carreira militar extraordinária ao longo de uma vida inteiramente dedicada ao Exército”; “meu filho é parceiro de vôlei dele, assim como eu”.
Sobre Augusto Heleno, o senador disse no depoimento que o general é “um ícone da nossa geração” e “um homem que sempre deu o exemplo”.
Não houve a mesma deferência a Bolsonaro —nem era de se esperar que houvesse. Antes mesmo da metade do mandato, o capitão deixou clara a insatisfação com seu vice. Numa entrevista em 2021, explicitou a ruptura.
“O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né. Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado, não pode mandar o cunhado embora.”
Mourão admitiu que travou durante o mandato uma guerra fria com Bolsonaro e se queixou, em 2022, de nunca ter sido procurado por Bolsonaro para lavar a roupa suja.
“É óbvio que eu teria tido uma conversa com ele mais detalhada a respeito do meu papel, para evitar os choques que ocorreram e que não precisavam ter ocorrido.”
Quanto ao amigo Braga Netto, o ex-vice considera sua prisão “injusta e absurda, porque ele não estava obstruindo a Justiça”. “Mas, dentro da visão que o Alexandre de Moraes tem, é simbólico. Ele mantém um general de quatro estrelas preso.”
Em abril, Mourão foi um dos senadores autorizados pela Justiça a visitar Braga Neto no quartel-general da 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar, no Rio, onde o general está detido desde dezembro, num quarto.
O ex-vice teve 40 minutos disponíveis para conversar com o seu substituto na chapa bolsonarista, numa sala próxima ao cômodo onde ele está confinado. Segundo Mourão, eles conversaram “amenidades” e não trataram do processo judicial.
(Com informações do jornal Folha de S.Paulo)