Sábado, 27 de julho de 2024

Sem invasão do Capitólio, não haveria a invasão em Brasília, diz cientista político norte-americano

As cenas de invasão de extremistas na Praça dos Três Poderes em Brasília e as imagens da insurgência de trumpistas no Capitólio em Washington D.C., dois anos antes, não são eventos desconectados. A primeira se forma a partir de “um efeito imitativo profundo” da segunda e em um contexto em que ao menos parte das direitas de Brasil e Estados Unidos desistiram da competição democrática e lançaram mão da violência política. Esta é a interpretação do cientista político americano Scott Mainwaring, da Universidade Notre Dame, no estado norte-americano de Indiana.

Estudioso há décadas da política latino-americana e ex-co-titular do programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Harvard, Mainwaring acaba de publicar o artigo” (“Por que as democracias da América Latina estão emperradas”, em tradução livre) no Journal of Democracy, em co-autoria com Aníbal Pérez-Liñán, também da Notre Dame University.

Para os pesquisadores, tanto a invasão aos prédios do governo federal brasileiro quanto os seis presidentes que o Peru teve em apenas cinco anos ou mesmo a intervenção autoritária do presidente salvadorenho na Suprema Corte do país são soluços críticos em uma região que, nas últimas décadas, foi incapaz de aprofundar seus processos democráticos.

A América Latina vive não apenas uma bem documentada estagnação econômica como uma estagnação democrática. “Essencialmente nenhum país da América Latina aprofundou a democracia nos últimos 20 anos”, afirmou Mainwaring.

Desenvolvimento econômico e desenvolvimento democrático não são processos estanques. Mainwaring afirma que a população da região experimenta um descrédito em relação à uma forma de governo que falhou sistematicamente em reduzir as desigualdades sociais, raciais, econômicas e étnicas.

“Em algum momento as democracias precisam produzir (sucesso econômico). Os cidadãos podem e têm tolerado períodos em que as democracias não lhes deram benefícios materiais. Mas, pelo menos nas novas democracias, isso provavelmente se tornará um equilíbrio precário em algum momento”, diz Mainwaring.

Na visão do cientista político americano, os Estados latinos são hoje, na melhor das hipóteses, “semidemocracias”, capturadas por grupos de interesse, desrespeitando sistematicamente os direitos humanos e entregando resultados muito aquém dos esperados pelas populações. Antes mesmo que se consolidassem, as democracias latinas estão enfraquecidas e com flancos abertos para a chegada ao poder de populistas autoritários, como Bolsonaro.

Para Mainwaring, uma outra semelhança muito importante é que o bolsonarismo está vivo no Brasil. “Bolsonaro pode morrer amanhã, mas o bolsonarismo é uma força política poderosa, assim como o trumpismo nos EUA”. Segundo ele. Trump tem seguidores mais fervorosos nos EUA do que qualquer outro republicano. E Bolsonaro “é um herói para dezenas de milhões de brasileiros”.

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