Sábado, 21 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de junho de 2025
Dois ex-oficiais de inteligência que eram alvo de processo disciplinar na Abin por serem sócios ocultos de uma empresa que disputou licitação do Exército Brasileiro em 2018 usaram seu conhecimento sobre o “uso irregular” do software de espionagem First Mile pela agência na gestão de Alexandre Ramagem como instrumento de “chantagem institucional” para evitar suas demissões, afirma a Polícia Federal (PF).
O relatório final da investigação sobre a chamada “Abin paralela”, cujo sigilo foi retirado na quarta-feira (18) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresenta uma série de elementos que sustentam o indiciamento dos ex-servidores Rodrigo Colli e Eduardo Izycki. Ambos são acusados pelos crimes de fraude em licitação e violação de sigilo funcional qualificada, com o agravante de terem agido em concurso de pessoas.
Segundo as investigações, Colli e Izycki se valeram de informações sensíveis a que tinham acesso, no âmbito de suas atividades na agência, para tentar evitar as punições administrativas que estavam prestes a receber. Em 20 de outubro de 2023, já sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os dois foram oficialmente desligados da Abin por decisão do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Àquela altura, ambos já haviam sido presos pela Polícia Federal no curso da operação que apura desvios de conduta e atuação irregular dentro da estrutura da agência.
O uso do conhecimento sobre o software espião como ferramenta de coação, segundo a Polícia Federal, resultou em “atos ilegais e de obstrução por parte da alta gestão da Abin à época (ALEXANDRE RAMAGEM e CARLOS AFONSO), como a anulação indevida do PAD (processo administrativo disciplinar), a tentativa de ‘legalização’ extemporânea do First Mile, e a concessão de licenças para tratar de interesses particulares”.
Os investigadores também destacam que, embora a conduta dos ex-agentes tenha contribuído para tornar públicas as práticas irregulares envolvendo o uso do First Mile — um sistema utilizado para monitoramento e coleta de dados — os objetivos principais não estavam voltados ao interesse público.
De acordo com o relatório, “embora suas ações tenham contribuído para expor a existência da ferramenta e suas irregularidades, há fortes indícios de que agiram primordialmente em interesse próprio e, ao ameaçarem expor informações sigilosas sobre operações clandestinas para evitar punição por seus próprios desvios funcionais, potencialmente obstruíram a investigação mais ampla sobre a organização criminosa (ORCRIM) instalada na Abin”. (Com informações da revista Veja)