Sábado, 24 de maio de 2025

“Só me falta morrer agora”; relembre reflexões do fotógrafo Sebastião Salgado ao fazer 50 anos de carreira

 

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado faleceu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos. Com uma trajetória profissional que ultrapassou cinco décadas, Salgado construiu um legado marcado por registros que ultrapassaram fronteiras, denunciaram desigualdades sociais e exaltaram a resiliência humana.

Durante uma de suas últimas entrevistas públicas, Salgado refletiu sobre o próprio tempo de vida e carreira: “Tenho 50 anos de profissão e 80 de idade. Estou mais próximo do fim do que de qualquer outra coisa, mas sigo fotografando e trabalhando como sempre fiz”, disse.

Ao comentar sobre como gostaria de ser lembrado, foi direto: “Não me preocupo com isso. Minha vida está registrada nas imagens que produzi — e isso é suficiente”.

Na ocasião, ele apresentava em Londres, na Somerset House, uma retrospectiva com cerca de 50 imagens selecionadas entre milhares de sua carreira. “É uma seleção pequena diante de tantos anos de trabalho. Cada foto representa um momento marcante da minha vida”, afirmou.

Nos últimos anos, Salgado concentrou seus esforços na preservação ambiental. Em 1998, junto à esposa, Lélia Wanick Salgado, criou o Instituto Terra, voltado à restauração de áreas degradadas da Mata Atlântica e à conscientização sobre a crise ambiental global.

Reconhecido internacionalmente, o fotógrafo acumulou diversas premiações ao longo da vida, como o Prêmio Príncipe das Astúrias de 1998 e a homenagem da Organização Mundial de Fotografia, em 2024, em Londres.

Salgado formou-se em Economia antes de se dedicar integralmente à fotografia, a partir de 1973. Desde então, documentou conflitos, migrações, desastres ambientais e comunidades tradicionais, sempre com um olhar sensível às causas humanas e sociais.

Para ele, o papel do fotógrafo vai além da estética: “As pessoas às vezes me chamam de artista, mas eu digo que sou apenas fotógrafo. E é um privilégio estar presente onde as coisas acontecem”, declarou.

Nos últimos anos, o aquecimento global e a crise hídrica passaram a ser temas centrais em suas falas. “Estamos perdendo água, até mesmo na Europa, onde nunca se imaginou isso. Regiões do sul da França passaram a depender de caminhões-pipa no verão — uma realidade antes restrita à África”, alertou.

Salgado também expressou preocupação com a perda de biodiversidade: “Sem insetos, não há polinização, e sem ela, as plantas não sobrevivem. A Alemanha perdeu 70% da sua biodiversidade em quatro décadas. Precisamos agir”, destacou.

Em suas palavras finais ao público, resumiu seu compromisso com o planeta: “Não se trata de maldade. O que falta é informação e consciência. E é isso que tento levar por meio da fotografia”.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Últimas

General Braga Netto jogava vôlei durante atos do 8 de Janeiro, diz testemunha
Justiça dos Estados Unidos derruba proibição de governo Trump a alunos estrangeiros em Harvard
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play