Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de agosto de 2025
Para preservar os empregos nos setores mais afetados pelo tarifaço do presidente americano, Donald Trump, o governo federal avalia replicar o modelo adotado no socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes do ano passado.
A ideia é ampliar o “Apoio Financeiro RS”, programa emergencial que concedeu duas parcelas de um benefício no valor de um salário mínimo (R$ 1.518) aos trabalhadores de empresas prejudicadas. O empregador complementa o restante do salário do empregado.
O auxílio seria pago diretamente ao trabalhador com vínculo formal, inclusive aprendizes e estagiários, assim como pescadores artesanais. Em contrapartida, o empregador precisaria manter o emprego pelo dobro do período de vigência das parcelas. Ou seja, por quatro meses. O objetivo da medida é preservar o poder aquisitivo dos trabalhadores, sobretudo os de baixa renda.
O Apoio Financeiro foi inspirado no Benefício Emergencial (BEm), criado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, na pandemia. O BEm permitia a redução de salário para trabalhadores com renda acima do piso nacional, vinculada a uma respectiva diminuição da carga horária.
No formato estudado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, as empresas afetadas precisam aderir ao programa e comprovar perda no faturamento devido à queda nas exportações para os EUA em função do tarifaço.
Taxação
Decreto editado por Trump, na quarta-feira (30), implementou uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o total da taxação para 50%. O documento lista, contudo, 694 exceções, como o suco de laranja, peças e aeronaves, itens do setor de energia e petróleo.
Já outros produtos como frutas, peixes, carnes, têxteis e calçados deverão ser sobretaxados, com impacto na atividade econômica e no nível de emprego. O Apoio Financeiro seria uma ajuda excepcional até que as empresas consigam redirecionar os produtos.
Linhas de crédito
Estão ainda em estudo outras medidas, como a suspensão temporária do recolhimento do FGTS para empresas afetadas e a adoção de lay-off, com pagamento de parcelas pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Em outro eixo, está em análise também a concessão de linha de crédito para as empresas afetadas em condições mais acessíveis, como taxa de juros mais baixa e prazo de carência. A estratégia é usar o Fundo Garantidor de Operações (FGO), repetindo mais uma vez uma ação adotada no caso do Rio Grande do Sul.
A tendência é que o gasto do governo para enfrentar o tarifaço fique de fora das metas fiscais diante do “cenário excepcional” gerado pela iniciativa do presidente americano. Em participação no Mais Você, da TV Globo, nesta quinta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o objetivo é que as medidas tenham o menor impacto fiscal possível, mas indicou que há possibilidade de que o socorro aos setores afetados fique fora da meta.
Varejo
No setor de varejo e do consumo, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), que lidera o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, encomendou à RC Consultores um estudo sobre os efeitos do tarifaço no mercado interno. O fórum reúne 16 entidades de classe do setor e do agronegócio.
Segundo Márcio Milan, vice-presidente da Abras, o documento estaria em fase de sugestão de ajustes até a noite de ontem. Os pontos defendidos pela associação são:
• a suspensão da elevação do IOF (o imposto sobre transações financeiras, com nova alíquota definida em maio pelo governo e revisado pelo STF em julho);
• a chamada “política de inteligência de emprego”, com proposição de flexibilidade da jornada de trabalho e incentivo à empregabilidade da terceira idade;
• sugestão de criação de metas para emprego, como há para inflação;
• adiantamento da vigência da isenção de produtos da cesta básica, aprovada pela Reforma Tributária (que passaria a valer em 2027);
• e pedido de corte da taxa básica de juros.
Segundo Paulo Rabello de Castro, economista, ex-presidente do BNDES e dono da consultoria que fez o estudo, a análise prevê cenários com base na carta divulgada pelo presidente Donald Trump em 9 de julho, que anunciava a elevação da tarifa a produtos brasileiros para 50%.
“Embora (o setor varejista) não estivesse diretamente envolvido no tarifaço, que diz respeito a comércio internacional, indiretamente estão muito envolvidos, já que pode sobrar produtos do mercado interno, o que pode desorganizar as cadeiras produtivas. Há interesse do setor de varejo pelo mercado interno para que ele seja um instrumento de apoio para as empresas exportadoras”, afirma Paulo Rabello. Com informações de O Globo