Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de abril de 2025
De tempos em tempos, nomes consagrados da música brasileira decidem mirar no mercado internacional. Lançam álbuns em inglês, assinam com gravadoras estrangeiras, participam de premiações e investem pesado em turnês fora do país. Mas, apesar da expectativa, poucos conseguem realmente se firmar lá fora — e muitos acabam voltando para o mercado nacional.
Para entender melhor por que essa travessia é tão difícil, a produtora executiva Vanessa Abreu, especialista em estratégias de carreira artística com atuação internacional, analisou os casos de artistas como Wanessa Camargo, Claudia Leitte, Sandy & Junior e Kelly Key — todos com enorme visibilidade no Brasil, mas com trajetórias internacionais que não decolaram.
“O que funciona aqui nem sempre funciona lá fora. O público internacional é exigente, e o artista precisa se adaptar culturalmente, linguisticamente e esteticamente. Não basta traduzir a música — tem que traduzir a proposta inteira”, explica Vanessa.
Onde foi que travou?
Wanessa Camargo apostou no pop internacional ainda nos anos 2000, mas esbarrou na falta de uma identidade artística clara e em uma gestão de imagem inconsistente.
Claudia Leitte chegou a lançar músicas em inglês e fez shows nos EUA, mas faltou continuidade e uma estratégia de marca bem definida.
Sandy & Junior gravaram um álbum em inglês e buscaram espaço nos mercados latino e norte-americano, mas enfrentaram barreiras culturais e dificuldade de reposicionamento.
Kelly Key fez turnês e gravou nos Estados Unidos, mas sem estrutura de distribuição global nem conexão real com o novo público.
Vanessa destaca que um dos maiores erros é tentar replicar no exterior o que deu certo no Brasil. “Já vi artista sair ovacionado em São Paulo e ser completamente ignorado em Londres. Lá fora, você precisa quase começar do zero — e muita gente não tem paciência ou humildade pra isso.”
O desafio de se conectar com outra cultura
Mesmo diante dos obstáculos, a produtora acredita no potencial da música brasileira no cenário global — desde que o movimento seja estratégico, planejado e com apoio de uma equipe multicultural.
“Mais do que cantar em outro idioma, é preciso entender a alma da cultura do país onde você quer atuar. Quando estudei espanhol, tudo mudou ao entender a essência da cultura mexicana. Com o inglês foi igual: só fluiu quando compreendi a raiz da cultura americana”, conta.
Ela cita o exemplo recente de Bruno Mars no Brasil, que encantou o público não apenas pelas músicas, mas por mergulhar de verdade na cultura local. “Ele brincou com o público como um carioca, usou gírias, dançou funk, foi à Lapa… Ele não só vestiu a camisa do Brasil — ele sentiu a cultura”, comenta.
Para ela, esse é o verdadeiro segredo do sucesso global: “Não basta esperar que o mundo compreenda a sua cultura. É preciso se conectar, se adaptar e descobrir o que faz o coração daquela cultura bater. É aí que tudo muda.” As informações são do portal O Globo.