Quinta-feira, 03 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de março de 2023
De 2019 a 2022, foram realizados 324.272 procedimentos de laqueadura no SUS. Desses, 218.926 em mulheres entre 25 a 35 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, a média de idade das mulheres que realizaram o procedimento é de 30 a 34 anos.
No caso de mulheres sem filhos ou com o status não informado, o número de laqueaduras praticamente dobrou nos últimos quatro anos: em 2019, foram 653 cirurgias. Em 2022, o número saltou para 1.241. A quantidade de cirurgias é maior entre mulheres com dois filhos: foram mais de 43 mil procedimentos no ano passado.
Há também relatos de mulheres que nem sequer conseguiram abrir o processo. “Me disseram no posto que é muito difícil conseguir pelo SUS”, afirma uma moradora de Maricá (RJ).
Em 5 de março deste ano, começaram a valer novas regras para a esterilização no Brasil, diminuindo a idade mínima para fazer laqueadura ou vasectomia de 25 para 21 anos e a dispensa de autorização do cônjuge para realizar a cirurgia. Além disso, pessoas sem filhos podem fazer, desde que tenham a idade mínima.
A quantidade de laqueaduras feitas no SUS é muito maior do que a inserção de dispositivos intrauterinos, os DIUs: foram mais de 70 mil procedimentos desse tipo em 2022.
Salpingectomia
Outro procedimento adotado por mulheres que buscam a esterilização é a salpingectomia. A diferença é que, nesse caso, há a retirada das trompas, e não a estrangulação do canal tubário, como acontece na laqueadura. O método escolhido vai depender da paciente e do andamento da cirurgia.
“A abordagem cirúrgica é determinada pelas condições do corpo de cada uma. Às vezes, nos programamos para uma laqueadura e há varizes na pelve ou um sangramento não programado que podem justificar a necessidade de retirar a trompa, por exemplo”, afirma a ginecologista Ana Teresa Derraik, que também é diretora da Maternidade Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias (RJ).
Tanto a laqueadura quanto a salpingectomia são procedimentos irreversíveis. Parte da resistência médica em fazer o procedimento também passa por um possível arrependimento no futuro da paciente, que pode ser questionado na Justiça.
“Muitos médicos acabam evitando esse tipo de procedimento por insegurança e medo de um processo, já que a esterilização causa uma perda definitiva de função”, coloca a ginecologista Rayanne Pinheiro.
Nova gestação
Apesar de ser irreversível, mulheres que fazem laqueadura ou salpingectomia ainda podem gestar de outras formas, após uma inseminação artificial ou uma fertilização in vitro.
Ou também podem engravidar sem querer. A taxa de eficácia da laqueadura fica acima de 99%, mas há uma mínima chance de falha: a cada mil mulheres, cinco podem engravidar pela forma natural, mesmo esterilizadas, algo que também virou processos na Justiça.
Os DIUs possuem taxas de eficácia parecidas com a da laqueadura. Eles são pequenos dispositivos em forma de T colocados no interior do útero, com o objetivo de evitar uma gravidez, e são reversíveis.
Métodos
De acordo com ginecologistas, não existe um método contraceptivo perfeito: depende muito da fase da vida que a mulher se encontra, do estado de saúde e dos fatores de risco.
Hoje, a gente entende a contracepção como algo pactuado. Antigamente, era algo muito determinado pelo médico: use isso ou aquilo. Hoje não. Precisamos aconselhar a mulher e mostrar a ela todos os métodos que são possíveis e quais seriam contraindicados no caso dela. É um momento de escuta e de escolha pactuada e orientada, explicou Rayanne Pinheiro, ginecologista e sexóloga
Segundo a médica Ana Tereza Derraik, a laqueadura é recomendada para mulheres que decidiram fazer o procedimento depois de serem informadas sobre as complicações, os efeitos colaterais e as possíveis falhas, além de serem esclarecidas sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis.