Sábado, 16 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de agosto de 2025
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) aprovou a incorporação da prostatectomia radical assistida por robô (PRAR) à rede pública de saúde para o tratamento do câncer de próstata.
O procedimento, que consiste na remoção completa da próstata, é o principal tratamento para o câncer quando é localizado ou localmente avançado. É considerada um tratamento curativo. O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais frequente entre os homens, com o Inca estimando cerca de 77 mil novos casos no Brasil em 2025.
A decisão da Conitec, baseada em critérios técnicos e científicos, amplia o acesso a uma tecnologia minimamente invasiva, segundo especialistas. Atualmente, essa tecnologia está limitada pelo número de plataformas disponíveis e é encontrada majoritariamente na rede privada.
A incorporação da tecnologia robótica apresenta benefícios significativos, incluindo menor mortalidade e menos complicações, redução de custos hospitalares, melhora da qualidade de vida dos pacientes, redução significativa do sangramento, recuperação mais rápida, altas hospitalares mais precoces, melhor preservação das funções urinárias e sexuais, menor necessidade de transfusões sanguíneas e redução do tempo de internação.
“A tecnologia robótica é mais barata do que a cirurgia convencional porque o paciente complica menos”, afirma Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), que contribuiu com o respaldo técnico-científico para a decisão. “Menos complicações significam menos custos com internações e reoperações.”
Roni Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da Sociedade Brasileira de Urologia, complementa: “Nos últimos 17 anos, essa tecnologia demonstrou importante redução de sangramento, recuperação mais rápida, altas hospitalares mais precoces e desfechos oncológicos comparáveis ou superiores, com menos complicações. Esses efeitos impactam positivamente os fluxos hospitalares e a capacidade de atendimento.”
Aspectos econômicos e próximos passos
Embora a robótica demande investimento inicial em incorporação e implementação, no médio e longo prazo reduz despesas. Estudos e relatórios já demonstram de forma consistente essa superioridade econômica, afirma Pinheiro.
A incorporação da PRAR pode gerar tanto aumento quanto diminuição de gastos para o Sistema Único de Saúde (SUS) ao longo de cinco anos, dependendo do número de cirurgias anuais e do ajuste de custos. Além disso, a incorporação da tecnologia tem potencial para gerar benefícios em cadeia no ambiente de inovação e tecnologia do SUS, incentivando a capacitação de profissionais e a introdução de novos métodos de trabalho.
Após a recomendação da Conitec, o próximo passo é definir diretrizes claras para o uso da tecnologia, explica Pinheiro, incluindo questões como quem poderá realizar a cirurgia robótica, quando ela será indicada e como será organizada a rede para oferecer o procedimento.
Atualmente, já existem cerca de 40 robôs em operação no SUS no Brasil, porém concentrados nas regiões Sul e Sudeste, afirma o presidente da SBCO. Essa distribuição desigual representa um desafio significativo, gerando iniquidade no acesso e pior prognóstico para pacientes das regiões Norte e Nordeste.
“Hoje, se você tiver câncer no Norte do Brasil, você tem maior chance de morrer do que se tiver câncer no Sudeste. Isso é uma desigualdade inaceitável”, destaca o médico. “O código postal hoje é fator prognóstico.”
A cirurgia robótica para o tratamento do câncer de próstata foi aprovada pelo FDA nos Estados Unidos e por órgãos reguladores na Europa entre 2003 e 2004. No Brasil, o primeiro sistema robótico foi aprovado pela Anvisa em 2008 e começou a ser utilizado em hospitais privados.
Atualmente, o país conta com cerca de 160 plataformas robóticas, sendo que 43 realizam procedimentos em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), das quais 12 são de uso exclusivo do SUS.