Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de agosto de 2025
Dois anos após a privatização da Corsan, o Rio Grande do Sul vive uma revolução silenciosa no saneamento básico — mas também uma crise invisível. Com R$ 3,85 bilhões investidos pela Aegea, nova controladora da companhia, os 317 municípios atendidos pela empresa avançaram em ritmo acelerado rumo à universalização da água e do esgoto. No entanto, 176 cidades continuam fora do mapa da transformação, e podem não alcançar as metas do Marco Legal do Saneamento até 2033.
O dado é alarmante: enquanto 99,26% da população atendida já tem acesso à água tratada, apenas 28% conta com cobertura de esgoto. O salto é expressivo — 33% de avanço em dois anos — mas ainda insuficiente diante da urgência sanitária. O volume de efluentes tratados equivale a 18,6 mil piscinas olímpicas por ano, um marco ambiental e de saúde pública. Mesmo assim, milhões de gaúchos seguem expostos à precariedade.
“O maior desafio está nos municípios que não têm cobertura da Corsan. Muitos não têm capacidade técnica nem financeira para buscar a universalização”, alertou o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos, durante o evento Tá na Mesa da FEDERASUL. Ele prometeu apoio jurídico e técnico do governo estadual, mas reconheceu que, no ritmo atual, a meta de universalização não será cumprida.
O contraste é gritante. No Litoral Norte, historicamente marcado por escassez e gargalos, R$ 150 milhões já estão sendo aplicados em macroesgotamento. Em Porto Alegre, a concessão parcial do DMAE está em análise pela Aegea, sinalizando uma nova frente de expansão privada.
A privatização da Corsan, concluída em julho de 2023, foi cercada de polêmicas. Mas os números falam alto: a média anual de investimentos quadruplicou, saltando de R$ 500 milhões para R$ 1,9 bilhão. Foram 180 mil novas conexões de água e 284 mil imóveis beneficiados com esgoto. A promessa é ousada: 99% de cobertura de água e 90% de esgoto até 2033.
O presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, defendeu o modelo. “A concessão atendeu ao interesse público que o setor estatal não conseguia suprir”, afirmou. Mas o debate permanece: é possível universalizar sem excluir? O futuro do saneamento no RS depende da resposta.