Quarta-feira, 16 de julho de 2025

Tarcísio de Freitas “se queima” no tiroteio entre Trump e Lula e vira alvo do bolsonarismo ao tentar corrigir o rumo na crise

A crise disparada pelo tarifaço de 50% sobre as importações brasileiras aplicado pelo presidente americano Donald Trump tem grande repercussão na política nacional e, no estágio atual, uma vítima certa: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Sua inabilidade no manejo do episódio causou espanto mesmo entre aqueles que acreditam em suas juras de moderação, que vinham dando a ele a posição de principal alternativa na direita para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano que vem.

De cara, Tarcísio comprou a politização da carta em que Trump anunciava a taxação, condicionando a punição àquilo que chama de “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Tarcísio disse que a culpa pela situação é de Lula. Foi ao encontro de Bolsonaro, a quem já prometera indulto caso o ex-chefe seja preso no julgamento da trama golpista, se for presidente. E ainda sugeriu ao Supremo Tribunal Federal que autorize o ex-mandatário, cujo passaporte está retido, a ir negociar com Trump.

Buscava assim manter o apoio de bolsonaristas, que desconfiam de suas promessas de ponderação. Essas franjas preferem um Bolsonaro, seja o filho Eduardo ou a mulher Michelle, disputando com Lula.

Mas a reação ante o tarifaço foi uma condenação pelo setor produtivo, particularmente o paulista, origem de um terço das exportações brasileiras aos EUA.

Cobrado pelo empresariado, tendo exposta sua dependência do bolsonarismo e sendo visto como contrário ao país, o governador então buscou modular a retórica. Abandonou o discurso de suporte à anistia de Bolsonaro e fixou-se nos interesses do estado.

O movimento ainda é atabalhoado e eivado de política rasa, como a disputa pela presença dos mesmos empresários já convocados pelo governo federal para discutir a crise nessa terça (15) em um evento análogo no Palácio dos Bandeirantes.

A mudança foi suficiente para jogar Tarcísio aos leões do bolsonarismo, que o acusaram de oportunismo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se refugia nos Estados Unidos para municiar Trump em favor do pai e contra o STF, o chamou de “desrespeitoso”.

Entusiastas de um Tarcísio depurado podem ver na crise uma oportunidade, mas o fato é que até aqui o governador colhe o pior de dois mundos, além de presenciar Lula ganhar um ativo político em momento de desgaste.

Por óbvio, envergar a armadura de defensor da pátria não retira responsabilidades do petista. O atraso do Brasil na integração ao mundo, marca dos governos Lula, resulta em vulnerabilidade e dependência maior dos EUA.

Ademais, a irresponsabilidade fiscal vigente dificulta o trato da inflação em um ambiente pressionado pelo tarifaço, com efeitos subsequentes nos juros e no crescimento. Assim, os ganhos políticos poderão evaporar tão rapidamente quanto surgiram. (Opinião/Folha de S.Paulo)

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