Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de julho de 2025
Poucos dias após o tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump, a movimentação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tentar baixar a fervura e buscar uma saída negociada gerou descontentamento no entorno de Jair Bolsonaro. Nomes como o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o pastor Silas Malafaia cobraram uma postura combativa do favorito para suceder o ex-presidente nas urnas, de olho em prolongar a crise e aumentar a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Diante da repercussão negativa das tarifas nas redes sociais e no empresariado, Tarcísio tomou a iniciativa de dialogar com o governo americano, ao mesmo tempo em que buscou a Corte em favor de seu padrinho político, expondo o dilema da direita brasileira diante de ações trumpistas.
Tarcísio se reuniu com ao menos dois ministros do STF e apresentou a proposta de que Bolsonaro recebesse de volta seu passaporte, retido pela Corte no âmbito do inquérito que apura tentativa de golpe de Estado.
Segundo interlocutores, a sugestão de Tarcísio era para que o STF autorizasse Bolsonaro a viajar aos EUA e negociar com Trump a suspensão das tarifas, mas a ideia foi classificada por um magistrado como “maluquice” e recusada pelos ministros. A devolução do documento já havia sido ventilada de véspera pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Reencontro
Em outra frente, o governador anunciou ter se reunido em Brasília, na sexta-feira (11), com o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar. O objetivo, segundo Tarcísio, foi sensibilizar o governo americano sobre as “consequências da tarifa para a indústria e o agro brasileiro”.
“É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa”, publicou em uma rede social.
A declaração ocorreu um dia depois de um encontro entre o próprio Tarcísio e Bolsonaro, em Brasília, numa tentativa de calibrar o discurso da direita frente ao tarifaço de Trump. Ambos se reuniram novamente para um almoço na sexta.
Em um primeiro momento, na noite de quarta-feira, o governador havia culpado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela taxação, alegando que o petista “colocou a ideologia acima da economia”, mas sem tecer críticas ao STF — também citado na carta do presidente americano. Depois, na manhã de quinta, Tarcísio se referiu ao tarifaço como “deletério”, e disse que “o esforço diplomático” de reverter a medida “cabe ao governo federal”.
O movimento de Tarcísio irritou Eduardo Bolsonaro, que havia chamado para si, ainda na quarta (9), a responsabilidade pelo tom duro adotado por Trump. No documento, o presidente americano deu menos destaque às tarifas em si, e se concentrou em críticas a uma suposta “caça às bruxas” contra Bolsonaro e a decisões do STF que atingiram empresas de tecnologia sediadas nos EUA.
Sem mencionar a declaração de Tarcísio, Eduardo fez publicações, na sexta-feira, em que criticou “qualquer tentativa de acordo” com o governo americano sem envolver antes a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. O objetivo, segundo ele, é uma “anistia ampla, geral e irrestrita” para casos relacionados aos ataques de 8 de Janeiro, o que pode beneficiar o próprio pai, réu no STF no inquérito da tentativa de golpe.
“O problema não é econômico e todos sabem qual é a causa. Apresentar uma, ainda que surreal, solução não fará de ninguém um salvador da pátria”, escreveu Eduardo.
Malafaia, por sua vez, projetou que a “próxima retaliação” do governo Trump será “na pessoa física” de ministros do Supremo, caso não cessem o que chamou de “perseguição política a Bolsonaro”. Ele também minimizou críticas nas redes sociais à ação de Trump.
A aliados, Malafaia tem afirmado que “obviamente não quer ver o país taxado”, mas cobrou “firmeza” de Tarcísio e de outros governadores de direita que ensaiaram recuos, em um momento em que o tarifaço acumulava menções negativas nas redes sociais. (Com informações do jornal O Globo)