Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 22 de setembro de 2025
Principal cotado para suceder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vive um paradoxo: enquanto sua gestão acumula desgastes entre os paulistas, sua força eleitoral cresce fora do Estado, a ponto de furar a bolha e atrair até eleitores que hoje aprovam a gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É o que mostram pesquisas qualitativas do Instituto Travessia realizadas no primeiro semestre deste ano no Distrito Federal e em cidades de diferentes Estados do País, incluindo São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O relatório reúne percepções de grupos focais sobre o governador e tem caráter analítico, sem rigor científico.
Esse tipo de pesquisa tem o objetivo de compreender, a partir de entrevistas, questões subjetivas, como atitudes, percepções, opiniões e formas de pensar. É diferente da pesquisa quantitativa, que se apoia em dados objetivos, a exemplos de números e estatísticas.
Tarcísio aparece bem posicionado nas pesquisas fora de São Paulo, mas com uma fragilidade: sua imagem positiva se apoia mais em impressões superficiais do que em conhecimento sobre sua trajetória. O governador é descrito por eleitores não paulistas como “preparado”, “honesto”, “capaz” e “articulador”. Em cidades como Florianópolis (SC) e Blumenau (SC), chega a ser chamado por eleitores de “o próximo presidente”.
Apesar da boa impressão, as pesquisas indicam que o conhecimento sobre o governador paulista ainda é muito limitado. Fora de São Paulo, Tarcísio é lembrado principalmente por sua passagem nos governos Dilma Rousseff (PT) e Jair Bolsonaro — referência usada por eleitores para justificar os atributos de “moderado” e “técnico”. Ele também é frequentemente associado à figura de gestor que tira do papel grandes obras de infraestrutura.
Fora de São Paulo, pouco se sabe sobre a gestão de Tarcísio — sinal de que, numa eventual campanha presidencial, ele terá de se apresentar melhor ao eleitorado. Um dos raros assuntos locais citados em qualitativas pelo País é a dispersão da Cracolândia. Em Estados Brasil afora, é forte a percepção de que Tarcísio teria conseguido resolver o problema crônico da região, segundo o relatório do Travessia.
Embora seja visto como aliado próximo de Bolsonaro, o governador é lembrado em outros Estados principalmente pela postura “técnica e comedida”, diz Renato Dorgan, cientista político e CEO do Travessia. São raras as críticas à sua gestão ou forma de governar.
“O que prevalece fora de São Paulo é a imagem de um engenheiro militar sério e religioso”, observa Dorgan, responsável pelos levantamentos. Ele pondera que as pesquisas foram feitas antes da condenação de Bolsonaro e da guinada no discurso de Tarcísio, que em manifestação no 7 de Setembro chamou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “ditador”.
As pesquisas qualitativas do Travessia indicam que Tarcísio tem hoje mais força eleitoral fora de São Paulo do que em seu próprio Estado e é visto como mais viável que outros nomes da direita, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e os governadores Eduardo Leite (RS, do PSD), Romeu Zema (MG, do Novo), Ronaldo Caiado (GO, do União Brasil) e Ratinho Júnior (PR, do PSD).
Entre os nomes da direita e centro-direita, Michelle é a que mais se aproxima de ocupar o espaço hoje liderado por Tarcísio. Mas enfrenta dois obstáculos: a falta de experiência e a força do antibolsonarismo, que aparece até entre eleitores sem qualquer identificação com a esquerda, diz Dorgan. Segundo ele, os grupos focais de qualitativas mostram que Tarcísio consegue unir a direita e a centro-direita. Ao mesmo tempo, ainda atrai eleitores arrependidos de Lula de perfil centralizado e outros que classificam a gestão do petista como regular.
Se fora de São Paulo Tarcísio navega em águas tranquilas, dentro do Estado ele enfrenta um cenário mais dividido. No interior, as pesquisas qualitativas mostram uma avaliação bastante positiva para o governador, mas essa percepção se torna mais negativa à medida que se aproxima da capital paulista. Apesar dessas oscilações, Dorgan diz haver um “descolamento” entre a avaliação da gestão e a imagem do governador.