Domingo, 03 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de agosto de 2025
Na semana em que os Estados Unidos incluíram um ministro da mais alta Corte do País na lista da Lei Magnitsky — instrumento usado contra ditadores e terroristas — o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), submergiu. Principal nome da direita para 2026, Tarcísio passou cinco dias sem agendas públicas e se fechou em compromissos internos no Palácio dos Bandeirantes justamente quando a pressão americana contra o Supremo, patrocinada pelo bolsonarismo, atingiu seu ápice.
Embora o governador já tenha ficado sem aparecer em público por tanto tempo em outras ocasiões, é a primeira vez desde fevereiro que isso ocorre em dias úteis, de segunda a sexta-feira da mesma semana. A tendência é que o período se amplie, já que Tarcísio passará por procedimento médico para destruir nódulos na tireoide no domingo, 3. Por conta da intervenção, ele não irá ao ato bolsonarista na Avenida Paulista.
Procurado, o governo de São Paulo lembrou que, na última quinta-feira, por meio dos canais oficiais do governo, o governador anunciou um pacote de medidas emergenciais para mitigar os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. “Na ocasião, Tarcísio de Freitas enfatizou o compromisso do governo paulista com a preservação da competitividade da indústria local, bem como com a proteção do emprego e da renda dos trabalhadores no Estado.”
Tarcísio é visto como uma ponte entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal (STF), sendo um dos poucos no campo que mantém diálogo com Alexandre de Moraes, alvo das sanções do governo Donald Trump. O silêncio do governador provocou desconforto entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que interpretam sua postura como uma tentativa de evitar desgastes com Moraes.
O governador paulista integra a ala bolsonarista que defende diálogo com o Supremo, em contraste com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os Estados Unidos em busca de sanções contra Moraes e outros ministros. Segundo pessoas próximas, Tarcísio chegou a criticar, em conversas reservadas, a postura de Eduardo, considerada um tiro no pé.
O entorno do governador nega que o sumiço tenha relação com a escalada da crise entre os EUA e o Supremo ou com a saúde dele. Afirmam que se tratou apenas de uma semana mais tranquila, após uma sequência de agendas intensas na semana anterior.
Na avaliação de pessoas próximas, Tarcísio não se furtou a falar sobre o tarifaço e expressou sua posição em várias ocasiões desde que a medida foi anunciada pelo presidente americano Donald Trump. Conforme essa visão, mesmo com a exclusão de setores importantes para a economia de São Paulo, como a Embraer e produtores de suco de laranja, não há o que o governador comemorar pois o saldo segue negativo para o Brasil.
Nos bastidores, porém, outra ala de aliados do chefe do Executivo paulista admite que ele deu um passo atrás nas declarações sobre temas nacionais e quer evitar esse tipo de embate daqui para frente. Em sua última declaração sobre o assunto, no sábado, 25, Tarcísio focou nos impactos negativos para a economia paulista, ressaltou medidas para ajudar os exportadores em São Paulo e pregou que nada pode estar acima do interesse nacional. “Infelizmente, hoje se busca tirar proveito político de tudo e dividir o País. […] A divisão interna é o que enfraquece o País”, disse na ocasião.
O recuo nas declarações sobre temas políticos é atribuído ao desgaste causado pelo episódio do “tarifaço”. Na ocasião, Tarcísio culpou o governo Lula pela taxa de 50% sobre produtos brasileiros, mas poupou críticas ao presidente americano, de quem é apoiador — no dia da posse de Trump, Tarcísio publicou um vídeo usando o boné com o slogan “Make America Great Again”; o material foi resgatado pela oposição após o tarifaço.
A postura de Tarcísio gerou críticas dos dois lados, como mostrou levantamento da AP Exata obtido pelo Estadão: da esquerda, por não se opor a Trump; e da direita, por não adotar um tom mais duro contra o Supremo nem defender de forma enfática a anistia aos condenados do 8 de Janeiro. As informações são do portal Estadão.