Quarta-feira, 30 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de julho de 2025
A possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonar para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, existe, mas não há uma decisão, afirmam interlocutores do governo brasileiro.
Conforme auxiliares do Palácio do Planalto, Lula só tomaria uma iniciativa nesse sentido após esgotadas todas as possibilidades de negociação para que as exportações do Brasil sejam poupadas da sobretaxa de 50% que entrará em vigor nesta sexta-feira (1º).
O tratamento dado pelo governo americano desde que Trump assumiu, em janeiro deste ano, conta como fator que desestimula um contato entre os dois presidentes. Em novembro de 2024, Lula enviou uma carta a Washington, parabenizando o mandatário pela vitória na eleição. O chanceler Mauro Vieira felicitou o secretário de Estado, Marco Rubio, pela aprovação de seu nome no Senado. Em ambos os casos, não houve resposta.
Existe o temor de que Lula seja tratado de forma desrespeitosa, afirmam integrantes do governo brasileiro. Trump humilhou líderes de outros países em audiências transmitidas ao vivo, como os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
O ministro das Relações Exteriores se encontra em Nova York, aguardando um contato de autoridades americanas para uma conversa de alto nível em Washington. Mauro Vieira participou de uma reunião da ONU sobre a situação na Palestina e retornou na tarde desta terça-feira (29) a Brasília.
Diferentemente do que ocorre com outros países que são alvos do “tarifaço” dos EUA, no caso do Brasil, Trump citou como motivo da taxação o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
A hipótese de incluir uma discussão sobre ação, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nas negociações, é rechaçada pelo Brasil. O tratamento dado pelo Judiciário brasileiro a Bolsonaro não está em discussão, afirmam interlocutores a par do assunto.
Integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty afirmam ainda que estão dispostos a discutir as tarifas no comércio bilateral e admitem que os EUA colocarão na mesa de negociações seus interesses sobre a aquisição dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras, e a regulação das big techs. No entanto, as conversas estão travadas.
Auxiliares de Lula avaliam que, três dias antes da vigência da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o cenário está cada vez mais confuso não apenas em relação ao que acontecerá com o Brasil, mas com outros países que buscaram acordos com os EUA. Um fato novo foi a repercussão negativa de alguns países da União Europeia (UE) após o acerto feito entre o bloco e a Casa Branca.
Uma das conclusões é que a estratégia do governo americano para negociar com os parceiros internacionais mexe não apenas com as economias, mas com o ambiente político em geral. A França e Alemanha, por exemplo, reclamaram do acordo com os EUA, que prevê a total abertura do mercado europeu para produtos americanos e a imposição de uma tarifa de 15% para bens da UE.
Entre auxiliares de Lula há percepção de que é baixa a chance de Donald Trump atender o presidente brasileiro, o que deve inibir a investida do governo brasileiro sobre a Casa Branca. Lula só pegará o telefone neste momento para ligar para Trump com a certeza de que o presidente atenderia, afirmam interlocutores.
Outra avaliação do entorno de Lula é de que se o telefonema ocorrer, será após 1º de agosto, data prometida por Trump para o tarifaço começar a valer. Com isso, Trump e Lula falariam já com a sobretaxa de 50% sobre produtos importados brasileiros em vigor e negociariam a partir dessas novas bases.
O Planalto entende que já fez sinais suficientes para a Casa Branca sinalizando o interesse de Lula de conversar com Trump, desde o final da semana passada.
(Com informações do jornal O Globo)