Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de julho de 2025
O setor de aviação brasileiro atravessou uma piora de perspectivas nos últimos meses diante de diversos reveses no ambiente tributário. O mais recente desafio chega com a possível tarifa de importação de 50% para produtos brasileiros nos Estados Unidos, que afetou diretamente a Embraer e pode vir a respingar na Gol, caso o Brasil resolva revidar.
Paralelamente, o setor também precifica o aumento de alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de remessas internacionais, de 0,38% para 3,5%, que deve trazer um custo adicional de R$ 600 milhões aos balanços das aéreas, segundo cálculos da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). E, no longo prazo, as empresas apontam mais subida de custos ante a reforma tributária que, no fim das contas, deve tornar o modal aéreo mais caro.
Além de encarecer as vendas de aviões da Embraer aos Estados Unidos, fontes do setor apontaram que a guerra tarifária também pode vir a trazer problemas para as aéreas do Brasil. Isso porque o governo tem se movimentado para a construção de um plano com eventuais retaliações caso as negociações não avancem.
Antes das disputas tributárias, o comércio de aeronaves comerciais entre os dois países não era tributado. Recentemente, o Brasil passou a ser taxado em 10% para enviar aviões aos EUA – embora o percentual, no fim, seja menor por causa da compensação de peças americanas nas aeronaves da Embraer.
A possível tributação às aeronaves da Boeing como represália seria prejudicial sobretudo à Gol, que tem hoje seu modelo de negócio totalmente concentrado na família 737 da americana.
Atualmente, a Gol aposta na aceleração dos recebimentos de aeronaves para renovar sua frota e compensar o tempo perdido com o processo de reestruturação nos Estados Unidos (“Chapter 11”), assim como os contratempos gerados pela crise da Boeing com o modelo MAX, que chegou a ficar fora de operação por dois anos.
A Gol fechou o primeiro trimestre de 2025 com 139 aeronaves, sendo 54 do modelo Boeing 737 MAX-8, de última geração. O plano é ter 167 aviões em 2029, sendo 105 do MAX. Procurada pelo Valor, a Gol não comentou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o horizonte de reciprocidade de tarifas na última segunda-feira (21), afirmando que a guerra tarifária “vai começar” caso Donald Trump não mude de opinião.
Nos bastidores, fontes apontam que o governo federal tentou várias vezes, sem sucesso, uma negociação direta com a gestão de Trump. Além disso, a pouco mais de uma semana do início do tarifaço, os Estados Unidos continuam sem um embaixador oficial no Brasil, dificultando ainda mais as negociações.
Outras aéreas também operam aeronaves Boeing no Brasil, como a Latam e a Azul, mas a frota é mais limitada. No caso da Latam, o negócio doméstico é majoritariamente composto por aeronaves da família A320 da francesa Airbus. Já a Azul opera sobretudo Embraer e Airbus.
A Embraer, que vinha renovando máximas históricas na bolsa brasileira com o bom momento em encomendas, tem apresentado volatilidade após o anúncio de Trump. A fabricante de aeronaves paulista anunciou o fechamento de diversos acordos de venda na feira Paris Air Show, como 55 jatos modelo E2 para a Scandinavian Airlines (SAS) e 60 aeronaves E175 para a americana SkyWest.
A Embraer encerrou o segundo trimestre com uma carteira de pedidos avaliada em US$ 29,7 bilhões, alta de 40% na comparação anual, sendo este o maior patamar na história, superando o recorde apresentado no primeiro trimestre. O balanço será divulgado em 5 de agosto.
Analistas do Itaú BBA e do BTG Pactual apontaram, em relatório, que as tarifas impuseram incertezas sobre a conversão dos pedidos em compras concretas. O BTG afirma esperar um “aumento dos esforços de ‘lobby’ nos Estados Unidos”. Até que a ameaça tarifária seja totalmente descartada, as ações devem continuar sob ruídos.
Outra decisão macroeconômica que pode afetar a aviação brasileira é a elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), uma possível medida para ajuste das contas públicas.
A Associação Brasileira de Empresárias Aéreas (Abear) calcula um impacto de R$ 600 milhões caso a alíquota de remessas internacionais suba de 0,38% para 3,5%. O embate entre o Poder Executivo – que propôs a elevação – e o Legislativo – que vetou a medida – chegou a ser judicializado no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão mais recente é pela derrubada do veto do Congresso Nacional.
A Abear afirmou que a medida pode ir na contramão de políticas de democratização do transporte aéreo. De acordo com a entidade, o setor “já enfrenta um cenário desafiador”, considerando que 60% dos custos são dolarizados.
O bilhete aéreo doméstico hoje é tributado em 9%, alíquota que deve subir com o atual modelo da reforma – ainda não se sabe o percentual, mas ronda os 27%. Já as passagens internacionais atualmente não são tributadas. Pela regra aprovada, que ainda pode levar alguns anos para entrar em vigor, a saída do Brasil seria tributada pela alíquota cheia. A exceção será para a aviação regional, que terá uma alíquota menor, mas o tema ainda precisa ser regulamentado. As informações são do Valor Econômico.