Sábado, 12 de julho de 2025

Tarifaço de Trump: governo Lula avalia que medida aproxima ainda mais o Brasil da China

O tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai aproximar ainda mais o Brasil da China, segundo interlocutores do governo brasileiro. A avaliação é que os ataques da gestão Trump reforçarão os laços políticos com Pequim e levarão o setor privado nacional para mais perto de outros parceiros internacionais, incluindo os chineses.

Desde que Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, na última quarta-feira (9), não há informação sobre novos contatos entre autoridades brasileiras e americanas, para que seja negociado um acordo.

O canal de diálogo foi aberto no último mês de março, e desde então está em discussão um entendimento que possa proteger as exportações do Brasil de aço e alumínio, que foram tributados pelos EUA em 25%, e os demais bens vendidos aos EUA, que passaram a ter uma taxa adicional de 10%.

Integrantes do governo que acompanham o assunto afirmam que o Brasil tentará negociar com os EUA e admitem que as conversas poderão ficar ainda mais difíceis com a nova sobretaxa. Um interlocutor ressaltou que haverá um esforço para que o diálogo ocorra em termos “minimamente civilizados”.

A China é, hoje, a principal adversária geopolítica e econômica dos Estados Unidos. A rivalidade ocorre tanto na disputa por influência global, como em comércio, tecnologia e outras áreas.

Os dois países negociam um acordo com o objetivo de reduzir as tarifas de importação impostas pelos americanos ao país asiático e aumentar o fornecimento de minerais essenciais para os EUA.

Maior parceiro comercial do Brasil, as exportações para a China foram quase US$ 12 bilhões maiores do que as importações de produtos chineses no primeiro semestre deste ano, garantindo uma relação superavitária ao lado brasileiro no intercâmbio bilateral de bens. No mesmo período, houve um déficit comercial de US$ 1,7 bilhão com os EUA.

Essa aproximação, no entanto, é vista com certo temor por empresários nacionais. Enquanto as exportações para os EUA são, em sua maior parte, de industrializados, com alguns produtos básicos, como carne bovina, café e petróleo.

A China compra commodities agrícolas e minerais do Brasil, com destaque para soja e minério de ferro. Será preciso convencer os chineses a comprarem mais manufaturados brasileiros.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, saiu em defesa do Brasil no embate com os EUA. Ela criticou a sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros e afirmou que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”.

Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump tem sido movido por interesses políticos. O mandatário americano vem declarando que o ex-presidente Jair Bolsonaro é vítima de uma “caça às bruxas” pelo Judiciário brasileiro.

Esse foi um dos motivos alegados para anunciar a sobretaxa, que passa a vigorar a partir de 1º de agosto. Outra razão é a regulamentação das grandes plataformas digitais americanas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Trump estaria trabalhando de olho na eleição de 2026 e quer minar uma possível candidatura de Lula à reeleição. Ele também mira o ministro do STF, Alexandre de Moraes. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, já declarou que Moraes poderá ser alvo de sanções, como a proibição de entrar nos EUA.

Conforme o jornal O Globo, se não houver acordo, o Brasil vai retaliar os EUA. Para não prejudicar os fabricantes nacionais com o aumento de tarifas de importação sobre produtos americanos, o mais provável será recorrer a áreas sensíveis para o país da América do Norte, como a cassação de patentes e a elevação de tributos para filmes, obras e bens culturais. Mas o governo vai esperar até o início de agosto, quando a nova sobretaxa passará a vigorar, antes de adotar qualquer medida.

Outro caminho, apontado por Lula várias vezes, será recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Entretanto, a OMC está praticamente engessada, porque o Órgão de Apelação, que funciona como última instância de recurso para o país que se sente prejudicado, está parado há cerca de cinco anos, devido a um boicote pelos EUA no primeiro mandato de Trump, que se manteve na gestão do ex-presidente Joe Biden. (Com informações do jornal O Globo)

 

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