Sexta-feira, 08 de agosto de 2025

Tarifaço dos EUA provoca reação de setores gaúchos: impacto bilionário e busca por novos mercados

Empresários gaúchos se reúnem no evento Tá na Mesa da Federasul para discutir tarifaço dos EUA.

A reunião-almoço “Tá na Mesa”, promovida pela Federasul no dia 06/08/25, reuniu lideranças empresariais para discutir os efeitos da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O encontro teve como tema “Exportações comprometidas: Impactos reais das sanções americanas no RS” e contou com a participação de representantes dos setores de tabaco, calçados, proteína animal, crédito especial e da Câmara Americana de Comércio (Amcham).

O presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, abriu o debate com críticas à postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atribuindo as sanções à “hostilidade ideológica” do governo brasileiro. Segundo ele, o país sofre consequências políticas e econômicas graves, e o Rio Grande do Sul será duramente afetado.

Ranolfo Vieira Junior, presidente do BRDE, anunciou um programa emergencial de crédito de R$ 100 milhões para empresas exportadoras gaúchas atingidas pela medida. Os financiamentos terão juros subsidiados — IPCA mais 4% ao ano — com prazo de cinco anos e carência de 12 meses. Vieira Junior classificou a iniciativa como paliativa, estimando uma retração de R$ 1,5 bilhão no PIB do estado. “Embora não resolva a questão estrutural, é uma resposta rápida do governo estadual para mitigar os efeitos da crise”, afirmou. Segundo ele, empresas dos setores metalmecânico, moveleiro, calçadista e alimentício já começaram a protocolar pedidos de financiamento. A análise inclui a verificação da nomenclatura Mercosul, a tabela harmonizada dos EUA e o peso da exportação no faturamento das empresas — especialmente as sistemistas, que chegaram a perder até 90% da receita.

Francisco Turra, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), destacou que o Brasil perde uma oportunidade estratégica no mercado americano, especialmente na exportação de carne bovina e ovos. “Exportamos apenas 1% da produção nacional de ovos, cerca de 590 milhões de unidades, mas esse número vinha crescendo exponencialmente após a entrada da JBS na Mantiqueira”, afirmou. Turra alertou que o Rio Grande do Sul não possui frigoríficos habilitados para exportar carne bovina aos EUA, mas o Brasil como um todo perde justamente no momento de maior escassez de oferta no mercado americano. A carne bovina já enfrentava uma tarifa de 26%, que agora sobe para 76% com o tarifaço. A previsão da ABIEC era exportar 400 mil toneladas de carne bovina em 2025. Ele também criticou a ausência de acordos de livre comércio: “O Chile tem 35 acordos, o Brasil não tem 10. Estamos pagando pelos pecados que cometemos impunemente.”

Priscila Linck, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, relatou cancelamentos de pedidos e paralisações nas negociações com importadores dos EUA. Segundo ela, cerca de 60% das exportações brasileiras de calçados vêm de empresas gaúchas, e até 4 mil empregos no estado estão em risco. “Os Estados Unidos são o principal destino do calçado brasileiro e também do gaúcho. O impacto será sentido nos próximos meses, especialmente nos produtos de maior valor agregado, como os de couro, que são difíceis de redirecionar para outros mercados”, afirmou. A indústria calçadista é a quinta maior empregadora do país, com mais de 82 mil postos diretos no RS. A estimativa é de perda de até 8 mil empregos no Brasil. A Abicalçados defende um programa emergencial para sustentação dos empregos e a liberação de créditos de ICMS em nível estadual.

Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, alertou para os impactos na cadeia produtiva do tabaco, setor que já enfrenta desafios regulatórios e agora sofre com a elevação das tarifas. Os embarques estão suspensos há mais de 20 dias. Do volume previsto para 2025 de 40 mil toneladas, metade já foi embarcada, mas 20 mil toneladas permanecem estocadas no Brasil. “Estamos sentados em cima de 20 milhões de quilos que foram comercializados com produtores no primeiro semestre. Se não houver uma solução diplomática, esse produto ficará parado”, afirmou.

Marcelo Rodrigues, diretor-executivo da Amcham, reforçou que o momento é “sensível e delicado” nas relações bilaterais. Ele estima que o tarifaço pode reduzir as exportações brasileiras em mais de US$ 9 bilhões e provocar a perda de até 110 mil postos de trabalho. A entidade tem articulado diálogos com o governo americano e o Congresso dos EUA para tentar reverter medida.

 

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