Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de julho de 2025
O principal efeito da tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações brasileiras deve recair sobre a balança comercial e repercutir de forma negativa no Produto Interno Bruto (PIB) do País. Nos cálculos do economista Roberto Dumas, o tarifaço pode tirar, no mínimo, 0,3 ponto porcentual de crescimento da economia brasileira em 12 meses a partir da sua vigência. “Mas esse valor pode ser maior”, afirma o professor de Economia Internacional do Insper.
Como base de comparação, a variação do PIB esperada para 2025 é de 2,23% de alta, conforme o mais recente boletim Focus, do Banco Central, que apura as expectativas do mercado brasileiro.
Cenário adverso
Além de reduzir essas projeções, o atual cenário adverso para comércio internacional oferece riscos de maiores dificuldades para que o Brasil redirecione suas exportações a outros mercados, piorando ainda mais o resultado da balança comercial. Isso em razão de possíveis retaliações por parte do governo americano a parceiros comerciais que decidissem comprar produtos brasileiros.
No cálculo do efeito negativo sobre o PIB, Dumas não considerou os impactos indiretos de uma possível depreciação cambial. Com a entrada menor de dólares em razão da redução das exportações, o real poderia se desvalorizar em relação ao dólar e pressionar os preços no mercado interno, elevando a inflação. O desdobramento desse movimento seria, segundo o economista do Insper, a manutenção da taxa de juros em um nível elevado por mais tempo.
Juros
“Aquela perspectiva de que a taxa de juros cairia no segundo trimestre do ano que vem pode começar a diminuir e a inflação acabar ficando mais pegajosa, mais resiliente”, observa Dumas. Ele frisa que tem mais receio dos efeitos indiretos do tarifaço de Trump na economia brasileira do que os impactos diretos.
Paulo Vicente dos Santos, professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral, diz que a piora nas exportações brasileiras é o principal efeito da tarifação de 50% sinalizada por Trump. “Supondo que em 1º de agosto essa tarifa vá entrar em vigor como está hoje, isso pode ter impacto em uma parcela significativa das exportações, o dólar deve subir por causa da menor entrada de divisas, a Bolsa deve cair e isso pode atrapalhar ainda mais a inflação”, avalia o professor.
Embora a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras tenha recuado de quase 25% no início dos anos 2000 para 12% em 2024 (o equivalente a US$ 41 bilhões), os economistas do BTG Pactual destacam, em relatório, que o mercado americano segue como o segundo principal destino das vendas externas do Brasil, sendo “o mais relevante para bens manufaturados de maior valor agregado, como aeronaves, autopeças e máquinas”.
Para o professor da Fundação Dom Cabral, o risco de estrago provocado pela tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras existe, mas não é motivo de desespero no curto prazo. “O estrago no curto prazo existe, mas não é desesperador; no médio e no longo prazos ele até pode ser, se não houver negociação.”
O BTG Pactual estima, em relatório, que a elevação da tarifa dos Estados Unidos reduz as exportações em US$ 7 bilhões em 2025 e em US$ 13 bilhões em 2026. Os economistas do banco assumem nesse cálculo que ocorra um redirecionamento gradual e heterogêneo entre os diferentes produtos da pauta de exportação.
Imagem arranhada
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o Brasil deixará de exportar para os Estados Unidos entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões por ano se a nova taxação de 50% entrar em vigor.
Além da redução das exportações para os EUA, Castro adverte para outra dificuldade que o tarifaço pode provocar. Ele acredita que o Brasil enfrentaria obstáculos para redirecionar as exportações. “Ter a maior taxação por parte do Trump passa a imagem que o Brasil cometeu uma infração gravíssima”, diz Castro. Essa imagem negativa pode levar empresas que queriam fazer negócios com o Brasil a pensar antes de fechar contratos.
Outro temor dessas companhias diz respeito a alguma represália por parte do governo americano a empresas ou países por comprarem produtos brasileiros. “Trump pode impor a quem comprar do Brasil alguma penalidade. Na dúvida, ninguém faz negócio e fica difícil redirecionar as exportações.” (Com informações do Estado de S. Paulo)