Domingo, 03 de agosto de 2025

Tarifas de Trump: Estados ‘bolsonaristas’ serão os mais serão os mais afetados por tarifas, mesmo com isenções

O tarifaço de 50% oficializado pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros pode ter impacto econômico maior nos Estados brasileiros em que houve mais apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro na última eleição presidencial.

O valor real do impacto ainda não foi calculado. E nem toda exportação será afetada: o texto do decreto que formaliza a medida traz uma série de exceções às taxações. Os setores de petróleo, polpa e suco de laranja e aviões, por exemplo, aparecem na lista de produtos brasileiros isentos.

O decreto de Trump detalha 694 produtos específicos isentos. Em geral, minerais, produtos energéticos, metais básicos, fertilizantes, papel e celulose, alguns produtos químicos e bens para aviação civil estão isentos da tarifação adicional.

Sete Estados brasileiros concentraram, no ano passado, mais de 80% de toda a exportação para os EUA: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Desses, com exceção de Minas, em que Lula ganhou por margem apertada (50,2% dos votos válidos), todos deram vitória a Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2022, segundo dados compilados pela BBC News Brasil.

Carne, frutas e café não entraram na lista de exceções – produtos exportados em grandes quantidades pelos Estados que concentram eleitores de Bolsonaro.

As novas tarifas entrarão em vigor em sete dias, a partir do dia 6 de agosto. Antes a previsão era que as novas taxas seriam implementadas já no primeiro dia de agosto.

Foram cerca de US$ 40 bilhões exportados no ano passado aos EUA, sendo os mais comuns os combustíveis minerais, café, ferro, aço, carnes e outros. Só São Paulo concentra mais de 30% dessas exportações – foram US$ 13,5 bilhões em 2024, ao todo.

Um dos motivos citados por Trump para a taxação foi o tratamento dado a Bolsonaro pela Justiça brasileira no processo em que ele é acusado de tramar um golpe de Estado. O ex-presidente chegou a fazer uma publicação no X em que sugere que a sua anistia seria uma forma de resolver a ameaça das tarifas.

Descolamento

Para cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil, o efeito político do tarifaço pode desgastar a imagem do bolsonarismo, mas abre uma oportunidade para presidenciáveis à direita no espectro político para se descolarem da imagem do ex-presidente.

O professor de Ciência Política da FGV Carlos Pereira afirma que as tarifas impostas por Trump podem afetar setores que historicamente são aliados de Bolsonaro.

“Esse tarifaço teve como motivação uma tentativa de fragilizar a suprema corte perante a sociedade e, consequentemente, fortalecer a direita. Só que o tiro saiu pela culatra, não foi isso que aconteceu”, diz Pereira.

Ele vê a situação, no entanto, como uma janela de oportunidade para outras lideranças de direita.

“A direita tem uma chance de ouro de se livrar de Bolsonaro. É algo que a esquerda teve no passado, quando Lula foi preso. Mas não conseguiu e Lula conseguiu sendo a principal figura carismática da esquerda.”

Situação delicada

Segundo a cientista política e antropóloga Isabela Oliveira Kalil, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), governadores de Estados afetados pelo tarifaço estão em posição delicada.

Por um lado, eles têm dificuldade em criticar abertamente o lobby de Eduardo Bolsonaro com Trump, porque poderiam perder votos entre eleitores de Jair Bolsonaro. Por outro, precisam defender os interesses econômicos de seus Estados, que podem sofrer perdas importantes com o tarifaço.

Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR) destacaram em falas públicas o que chamaram de falta de negociação do governo brasileiro com o estadunidense. Já Eduardo Leite (PSD-RS) condenou também a articulação da família Bolsonaro no país.

Kalil avalia que postura dos governadores contrasta com a do restante da política, citando o exemplo da comitiva de senadores que foi aos EUA para tentar negociar sobre as tarifas, incluindo os ex-ministros de Bolsonaro Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP).

“Sinalizam que, à frente da lealdade ao Bolsonaro está à lealdade às suas bases, aos seus interesses econômicos. Ninguém vai rifar suas relações com setores produtivos que ajudaram eles a se eleger, como o agro, para ficar defendendo a família Bolsonaro, por mais que publicamente não coloquem nesses termos.” Com informações da BBC News Brasil

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