Sábado, 12 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de julho de 2025
A nova onda de protecionismo comercial, impulsionada pelas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acendeu um alerta entre economias emergentes, como o Brasil. A maior preocupação recai sobre os investimentos estrangeiros diretos (IED), tradicionalmente uma das principais fontes de crescimento para esses países.
No caso brasileiro, a situação se agravou após Washington impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos nacionais, a maior já anunciada até o momento. Embora os EUA sejam apenas o segundo maior parceiro comercial do Brasil e respondam por menos de 2% do PIB nacional, analistas apontam que o impacto indireto pode ser relevante, especialmente se a medida afetar o fluxo de investimentos.
Desde a crise financeira global de 2008, o protecionismo vem ganhando força entre países desenvolvidos. Segundo relatório do Banco Internacional de Compensações (BIS), entre 2009 e 2023, o número de barreiras comerciais impostas por economias avançadas cresceu em média 8% ao ano, fazendo com que a fatia de produtos afetados saltasse de 5% para 62%.
Esse avanço de restrições tende a dificultar a atração de capital externo por parte dos países emergentes, alerta o BIS. “Menos investimento estrangeiro direto fluirá das economias avançadas para as emergentes, reduzindo o potencial de crescimento desses países e dificultando a convergência econômica”, afirmou a instituição, sediada na Suíça.
Levantamento da entidade mostra que nações que dependem de IED oriundo de países com alta concentração de barreiras comerciais registraram crescimento econômico mais lento. Todd Martinez, da Fitch Ratings, avalia que mudanças drásticas na política de comércio global podem afetar diversas variáveis econômicas. “Tudo na economia está relacionado”, afirmou.
Alexandre de Ázara, economista-chefe do UBS BB, vê os investimentos diretos no Brasil como o principal ponto de atenção nesse cenário. “Se o Brasil for classificado como país ‘não-amigável’, o risco é evidente”, disse, embora não acredite em uma retração drástica nos aportes. Até maio, o país já havia registrado entrada líquida de mais de US$ 30 bilhões em IED, levemente abaixo do mesmo período de 2024.
Mesmo com a incerteza, os Estados Unidos ainda representam cerca de um quarto do total investido por estrangeiros no Brasil. De acordo com o Índice de Confiança de IDP do Citi, o país manteve bom desempenho entre 2018 e 2024, ao lado de Espanha e Portugal, graças ao seu grande mercado interno. “Esse atrativo não muda com as tarifas”, ressalta Martinez.
Empresas, por ora, não demonstram intenção de acelerar estratégias de reshoring, segundo pesquisa do Bank of America. No entanto, pode haver maior movimento de nearshoring ou friendshoring, beneficiando países como México e Índia. Para o ex-presidente do Fed de Nova York, William Dudley, ainda é cedo para estimar os impactos de longo prazo. “Os investimentos têm vida útil longa e não se sabe quanto tempo essas tarifas estarão em vigor”, pondera.
(Com informações do O Estado de S.Paulo)