Sábado, 12 de outubro de 2024

Tempos difíceis em Cuba: crise energética e alimentar piora na ilha

Depois de um verão de altas temperaturas praticamente sem apagões e com combustível nos postos de gasolina, as autoridades cubanas admitiram, esta semana, uma grave crise energética — que pode ser ainda pior que as dos últimos anos. Na última quarta-feira (27), os ministros da Economia e de Minas e Energia foram à TV estatal alertar, durante o programa Mesa Redonda, que o governo cubano não tem dinheiro suficiente para comprar alimentos fora do país e que o cenário, incluindo o abastecimento energético, poderá se agravar em outubro.

“A economia está numa situação complexa”, disse o vice-primeiro-ministro e ministro da Economia, Alejandro Gil Fernández, que não apresentou números, mas admitiu os atrasos na entrega de alimentos racionados mensalmente às famílias cubanas, além da falta de leite para as crianças e de pão.

Já o ministro de Energia e Minas, Vicente de la O Levy, anunciou que haverá apagões durante todo o mês de outubro devido a um déficit de até 700 megawatts, o que equivale a 20% do consumo nacional, e um agravamento no sistema de transportes, causado pela falta de combustível. O Levy explicou que das 120 mil a 130 mil toneladas de diesel que o país necessita por mês, mil serão utilizadas para a produção de eletricidade.

“Temos [países] fornecedores que não puderam cumprir ou descumpriram seus compromissos conosco. Tivemos de sair para comprar o combustível do dia a dia”, justificou o ministro em rede nacional. “Estamos em uma situação difícil, mas vamos nos reerguer.”

A Venezuela é o principal fornecedor de petróleo a Cuba e reduziu suas entregas de 100 mil barris diários em 2016 para uma média de 56 mil em 2021. No último ano, México e Rússia contribuíram para atenuar o déficit severo da ilha. Segundo especialistas, a ilha carece de recursos para pagar o petróleo que importa, ao mesmo tempo em que subsidia a gasolina no interior do país com tarifas equivalentes a US$ 0,25 (cerca de R$ 1,25) por litro.

“São três erros básicos na questão energética: não houve investimentos fundamentais na infraestrutura elétrica por parte do governo, que, ao mesmo tempo, investe na construção de hotéis que são altamente consumidores de energia”, afirmou Manuel Costa Morúa, vice-presidente do Conselho para a Transição Democrática em Cuba. “O segundo erro é não se abrir aos investimentos estrangeiros em outras fontes de energia, que não sejam tão dependentes do petróleo e suas variantes. Por último, associar-se a parceiros voláteis, como a Rússia ou mesmo o México, que doou petróleo e agora quer cobrar por isso.”

Depois de reconhecer a profunda estagnação em que se encontra a economia cubana, os ministros admitiram que o país precisa se concentrar na produção nacional.

“Precisamos depender cada vez mais daquilo que somos capazes de produzir”, disse o ministro da Economia, que também pediu ao povo cubano que mantenha a confiança na revolução. “Sabemos que a vida é difícil. Mas acreditem: a única saída é a revolução e o socialismo.”

Nas redes sociais, muitos cubanos não viram nada de novo nas últimas declarações.

“É mais do mesmo”, disse Dani González ao El País. “O que eu sei é que nenhum líder passa pelo que nós, o povo, passamos. Me sinto decepcionado com tudo o que nos prometeram e não cumpriram.”

Analistas, no entanto, alertam para uma crise energética sem precedentes, dado o contexto dos últimos anos.

“Não é a mesma crise, justamente porque é o aprofundamento da crise sustentada de todos os anos anteriores”, explicou José Nieves, diretor de El Toque, site cubano independente. É o agravamento de uma crise multidimensional que o país está vivendo desde um pouco antes da pandemia, e que se aprofundou durante a covid-19 e as sanções do governo americano, na gestão do ex-presidente Donald Trump.

Medidas de contingência

Antes do anúncio de quarta, já haviam sido reveladas medidas de contingência adotadas em algumas províncias do país, entre as quais a diminuição do horário de eletricidade nas residências cubanas, o reajuste do horário de trabalho e do trabalho remoto, além da redução do uso de iluminação e a reestruturação dos horários escolares.

Um dos mais afetados é o setor privado da ilha, que foi reconhecido recentemente com as novas medidas adotadas pelo presidente. Nos últimos anos, Miguel Díaz-Canel tentou reavivar a economia com uma série de medidas, entre as quais se destaca a chamada Tarefa de Ordenamento, que incluía a unificação monetária; a abertura de lojas de moeda estrangeira, a abertura a investidores estrangeiros em algumas sociedades de economia mista; e o estabelecimento de pequenas e médias empresas.

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