Terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Tensão no Caribe: aliança cada vez mais forte entre Maduro e Putin, enquanto a Guiana recorre aos Estados Unidos para defender seu território rico em petróleo e recursos naturais.

Enquanto a Guiana recorre aos Estados Unidos e a outros aliados para defender a região de Essequibo, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, vai a Moscou nos próximos dias visitar o presidente russo, Vladimir Putin. O encontro havia sido acertado em outubro, antes do plebiscito venezuelano que decidiu pela anexação do território guianense, e a pauta era a intensificação da cooperação entre os países e os investimentos russos na Venezuela, especialmente os ligados à exploração de petróleo.

A reunião, porém, cresceu em importância. Com o aumento da tensão na região nos últimos dias, a viagem aponta para uma aliança cada vez mais forte entre Maduro e Putin. Analistas avaliam, no entanto, que, hoje, a Rússia tem poucas condições de auxiliar a Venezuela no campo militar por causa da concentração de tropas na Ucrânia.

Agora, com o aumento das tensões na região, a viagem sinaliza uma aliança cada vez mais forte entre Maduro e Putin, enquanto a Guiana recorre aos EUA e a outros aliados sulamericanos para defender seu território, rico petróleo e recursos naturais.

Simbiose

Rússia e Venezuela estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo. O interesse russo em aprofundar os laços com o governo venezuelano acontece no momento em que o regime de Putin é submetido a duras sanções internacionais em razão da invasão da Ucrânia. Candidato ao quinto mandato na eleição presidencial de março de 2024, ele busca formas de romper esse isolamento diplomático.

A Venezuela também sofre com as sanções americanas, embora elas tenham sido temporariamente suspensas em outubro, após um acordo entre o regime chavista e a oposição para a realização de eleições presidenciais mais transparentes, em 2024.

A viagem de Maduro em um momento crucial da crise demonstra que o ditador venezuelano pretende buscar aliados em países rivais dos EUA. Analistas avaliam, no entanto, que a Rússia tem poucas condições de auxiliar a Venezuela militarmente por causa da concentração de tropas na Ucrânia. “É algo que precisa ser considerado quando se pensa no conflito por todas as partes”, disse o analista em segurança internacional Gunther Rudzit, professor da ESPM, em entrevista ao Estadão.

Riqueza

A disputa pelo Essequibo sobrevive desde o século 19, sendo resgatada de maneira bissexta pelos governos mais nacionalistas da Venezuela. A crise atual se agravou em 2015, quando a americana ExxonMobil encontrou no território 11 bilhões de barris em reservas recuperáveis. Com isso, a Guiana, um país de apenas 800 mil habitantes, se tornou de um dia para o outro o maior produtor per capita do mundo.

Em 2014, um ano antes da descoberta do petróleo, a Guiana tinha uma renda per capita de US$ 5,4 mil, menor que a venezuelana, que era de US$ 7,1 mil. Hoje, quase dez anos depois, a renda per capita guianense é 17 vezes maior que a da Venezuela – US$20,5 mil ante US$ 3,5 mil. Segundo o FMI, o PIB da Guiana cresceu assustadores 62,3%, em 2022, e deve aumentar 38,4% este ano.

Exercícios militares

Para evitar que Maduro atrapalhe a boa fase, o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, buscou proteção dos EUA. Os dois países realizaram exercícios militares aéreos em conjunto na região do Essequibo, segundo informou o Departamento de Estado. Maduro considerou o apoio uma ameaça.

“Exercícios militares não eram realizados com a Guiana”, disse o diretor do instituto de segurança Cetris e professor da National Defense University, Salvador Raza. “Mas, neste momento, eles carregam uma mensagem da presença americana, do alinhamento de interesses e da determinação dos EUA em ajudar na segurança da Guiana.”

Sozinhas, as Forças Armadas guianenses são inferiores às da Venezuela, tanto em pessoal quanto em equipamentos. O país conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Os equipamentos militares também são escassos. São seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa, em 1984.

A Venezuela tem 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos russos e chineses. O país conta ainda com 514 blindados, 545 peças de artilharia, 25 barcos de patrulha e 118 helicópteros, além de 40 caças e 440 canhões antiaéreos.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Brasil amplia atenção nas fronteiras com a Venezuela e a Guiana
Supremo tem piora na avaliação e é reprovado por 38%; aprovação é de 27%
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play