Terça-feira, 09 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 8 de dezembro de 2025
Qual é a idade “certa” para dar um smartphone ao seu filho? A dúvida divide muitos pais, pressionados pelos pedidos insistentes de pré-adolescentes e alertados por pesquisadores sobre possíveis impactos negativos da conectividade constante. Um novo estudo reforça a ideia de que é melhor esperar.
A pesquisa, publicada na revista Pediatrics, aponta que crianças que já tinham um smartphone aos 12 anos apresentaram maior risco de depressão, obesidade e sono insuficiente em comparação às que não possuíam o aparelho. O trabalho analisou dados de mais de 10.500 participantes do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente, o maior já realizado nos Estados Unidos sobre desenvolvimento cerebral infantil.
Segundo os pesquisadores, quanto mais cedo as crianças recebiam o primeiro celular, maior o risco de obesidade e pior a qualidade do sono. Eles identificaram ainda um subgrupo que não havia ganhado um smartphone até os 12 anos. Após um ano, aquelas que passaram a usar o dispositivo apresentaram sintomas mais intensos de problemas de saúde mental e pior padrão de sono do que as que continuavam sem o aparelho.
“Quando você dá um telefone ao seu filho, precisa pensar nisso como algo significativo para a saúde dele — e agir de acordo”, afirmou Ran Barzilay, autor principal do estudo e psiquiatra infantil do Hospital Infantil da Filadélfia.
Entendimento dos riscos
O estudo estabelece apenas uma associação, não uma relação de causa e efeito. Ainda assim, os pesquisadores destacam trabalhos anteriores que sugerem que crianças e adolescentes com smartphones podem passar menos tempo socializando presencialmente, se exercitando e dormindo — fatores essenciais para o bem-estar. Eles lembram que a adolescência é um período sensível, no qual pequenas mudanças no sono ou no estado emocional podem ter impactos profundos.
Barzilay ressalta que o objetivo da pesquisa não é culpar pais que já deram celulares aos filhos, reconhecendo que os smartphones se tornaram quase onipresentes entre adolescentes. “A idade importa. Uma criança de 12 anos é muito diferente de uma de 16”, afirmou.
A idade mediana para o primeiro smartphone entre as crianças avaliadas foi de 11 anos. E, segundo o Pew Research Center, praticamente todos os adolescentes americanos têm acesso a um aparelho.
Jacqueline Nesi, professora assistente de psiquiatria da Universidade Brown e autora do boletim Techno Sapiens, pondera que o estudo não comprova causalidade. “É muito difícil, senão impossível, obter esse tipo de evidência”, disse. Ainda assim, acredita que as descobertas podem incentivar pais a adiar a entrega do primeiro smartphone. Para ela, responsáveis devem confiar na própria intuição e considerar o preparo da família como um todo, já que o uso seguro exige limites e proteções.
Nesi afirma que entregar a uma criança um dispositivo com acesso irrestrito à internet sempre envolve riscos.
Proteger o sono
Embora ainda haja debate sobre os impactos diretos dos smartphones, especialistas concordam que esses aparelhos podem comprometer o sono das crianças. Jason Nagata, pediatra da Universidade da Califórnia, destacou um estudo de 2023, também com dados do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente, que mostrou que 63% das crianças de 11 a 12 anos tinham um dispositivo eletrônico no quarto, e quase 17% relataram ter sido acordadas por notificações na semana anterior.
“Retirar os celulares do quarto à noite é uma medida simples que as famílias podem adotar para mitigar alguns efeitos negativos, mesmo quando os pais já deram o aparelho aos filhos”, afirmou Nagata.
Ele e outros especialistas, no entanto, reconhecem que implementar esse tipo de limite pode ser um desafio para muitas famílias.