Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de novembro de 2025
Três meses seguidos de queda nas exportações para os Estados Unidos são o saldo imediato do tarifaço do presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil, com destaque para a redução de quase 38% em outubro, ante o mesmo mês de 2024. Se para a balança comercial como um todo isso não representou um desastre – o superávit de US$ 7 bilhões no mês foi bem superior às previsões, entre US$ 4,3 bilhões e US$ 6,3 bilhões, segundo as Projeções Broadcast –, isso se deve ao incremento das vendas brasileiras para a China, que no mesmo mês subiram 33,4%.
Nesse meio tempo, Trump e o presidente da China, Xi Jinping, selaram um acordo que suspendeu por um ano as sobretaxas recíprocas, o que tende a fazer a China levantar, integral ou parcialmente, o boicote imposto a produtos norte-americanos, movimento que levou os chineses a aumentar sobremaneira as importações brasileiras, como foi o caso da soja. Já o Brasil corre o risco de perder o bonde da negociação, que vai ditar os parâmetros de exportações e importações de 2026 em diante.
A importância do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, em 26 de outubro, será aferida de fato conforme surgirem medidas concretas para reduzir o tarifaço de 50% imposto ao Brasil. “Química”, fotos e declarações conciliadoras criam um ambiente favorável, mas não bastam, e os resultados estão aí para comprovar: de janeiro a outubro, as exportações para os Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial, caíram 4,5%, o que equivale a quase US$ 1,5 bilhão a menos. E isso porque o impacto da sobretaxa está restrito a três dos dez meses do período.
Em entrevista a correspondentes estrangeiros em Belém, onde participava da COP-30, Lula disse ter sugerido a Trump iniciar a discussão com taxas zeradas para negociar no limite estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que é de 35%. Disse também que, se não for marcada a reunião de negociação até o término da conferência de Belém, no dia 21, vai ligar para Trump. “O interesse é meu de negociar”, declarou o presidente brasileiro.
E tem razão: nesta delicada barganha, o interesse maior é do Brasil, que precisará de muita diplomacia para manter a negociação – quando finalmente ocorrer – no terreno econômico, desarmando armadilhas de Trump, que tenta usar o comércio como instrumento de pressão política. A diversificação das exportações, uma espécie de antídoto à dependência comercial, não é fácil, tampouco rápida.
O Brasil teve importantes avanços depois que o tarifaço estreitou as portas do comércio para o maior mercado consumidor do mundo. Em agosto, primeiro mês do impacto no Brasil, o México se tornou o segundo maior comprador de carne brasileira, superando os EUA, que caíram de segundo para sétimo, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A situação já mudou: em outubro, a China manteve a liderança isolada, seguida por União Europeia e Estados Unidos.
O peso do mercado chinês – e não apenas na carne, ressalte-se – tem sustentado o bom desempenho da balança comercial brasileira. Ao buscar uma trégua, ainda que temporária, com Xi Jinping, o imprevisível Trump deu mostras de reconhecer o cacife da China em nível equiparável ao norte-americano. O Brasil está entre os dois gigantes como um parceiro estratégico, mas cuja importância no jogo depende tremendamente dos lances dos outros dois.
Em recente entrevista, o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral considerou adequada a estratégia do Brasil de tentar a retirada linear da taxa, mas observou que a negociação deve ser longa por causa da complexidade dos temas mais importantes postos à mesa pelo lado norte-americano, como a questão das big techs e a exploração de terras raras – minerais que são matéria-prima para tecnologias de ponta como turbinas eólicas, carros elétricos, microchips e telas de smartphones.
Na relação com os Estados Unidos, o governo brasileiro tem adotado atitude de cautela e firmeza desde a desarrazoada carta em que Trump, entre mentiras e ameaças, anunciou a sobretaxa ao Brasil. Agora, que dá sinais de querer negociar, é hora de cobrar agilidade. (Opinião/O Estado de S. Paulo)