Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 18 de julho de 2025
O Pix, sistema brasileiro de pagamento instantâneo, entrou na mira do governo dos Estados Unidos durante uma investigação comercial aberta na terça-feira (15) a pedido do presidente Donald Trump.
No documento que oficializou o processo, a gestão Trump não mencionou o Pix diretamente, mas fez referência a “serviços de comércio digital e pagamento eletrônico”, inclusive os oferecidos pelo Estado brasileiro. O Pix é o único sistema do governo com essa finalidade.
“O Brasil parece se envolver em uma série de práticas desleais em relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, disse o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR).
Para especialistas, aspectos como o embate com as big techs e a concorrência com bandeiras de cartões de crédito americanas ajudariam a explicar a ofensiva dos EUA. Eles dizem que não há, porém, razões consistentes para questionar o serviço de pagamento.
Na verdade, o sucesso do Pix e seu papel como vitrine para o Brasil estariam sendo vistos como uma “ameaça” ao setor nos EUA. Os receios de Trump, afirmam, também estariam ligados ao avanço do PIX Internacional e às discussões do Brics sobre alternativas ao uso do dólar no comércio.
O Pix é gratuito para pessoas físicas e tem custo baixo para empresas, representando forte concorrência para grandes operadoras de cartão de crédito americanas, como Visa e Mastercard, afirma Jorge Ferreira dos Santos Filho, economista e professor da ESPM.
“O sistema também compete com fintechs americanas. Enquanto nos EUA a regulação permite a cobrança por transferências instantâneas, no Brasil essas empresas são obrigadas a integrar o PIX para operar”, diz.
Segundo o professor, as regras forçam as companhias a ajustarem seus modelos de negócio diante da possível perda de receita, já que empresas de alta tecnologia lucram com taxas sobre transações. O cenário também afeta big techs que oferecem serviços de pagamento, como o Google.
Para Ralf Germer, CEO da PagBrasil, o Pix é um sistema tecnologicamente avançado que promove uma concorrência saudável no mercado. Ele não acredita, porém, que o sistema conflite diretamente com os interesses dos EUA, nem que isso justifique a investigação do governo americano.
“O Pix não foi criado para concorrer ou substituir outros meios de pagamento, como o cartão de crédito. Desde o lançamento do sistema, as demais formas de pagamento, especialmente os cartões, continuaram crescendo”, afirma.
“Além disso, houve tempo suficiente para que se adaptassem e desenvolvessem soluções capazes de competir com as vantagens do Pix, seja em custo, experiência do usuário ou do comércio”, acrescenta.
Entre as novidades do Pix, o Banco Central do Brasil (BC) segue trabalhando para adotar, no futuro, o Pix Internacional, que já é aceito de forma limitada em alguns países, como Argentina, EUA (Miami e Orlando), Portugal (Lisboa), entre outros.
O BC avalia que o uso atual do Pix em outros países é “parcial”, restrito a estabelecimentos específicos. A expectativa é que, no futuro, os pagamentos transfronteiriços sejam realizados de forma definitiva, interligando sistemas de pagamento instantâneo.
Nesse sentido, especialistas acreditam que a possibilidade de uso do PIX Internacional como meio de pagamento entre países do Brics, por exemplo, pode ter incomodado os EUA por ameaçar a paridade do dólar nas negociações, comprometendo a hegemonia da moeda no sistema financeiro global.
“Esse pode ser o ponto que mais incomoda o governo americano: a criação de uma moeda única do Brics e o possível uso do sistema Pix para reduzir a influência do dólar nas negociações entre esses países”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
(Com informações do portal de notícias g1)