Domingo, 07 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 6 de dezembro de 2025
A Casa Branca divulgou a nova estratégia de segurança nacional dos EUA, principal documento a detalhar os pilares de engajamento do país em diferentes regiões do mundo, que deve guiar a política externa e de segurança do segundo mandato do presidente Donald Trump. O documento menciona textualmente a retomada da Doutrina Monroe para o reposicionamento de Washington como líder do Ocidente.
“Após anos de negligência, os EUA reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental e proteger nossa pátria e nosso acesso a regiões-chave em toda a região. Negaremos a concorrentes de fora do Hemisfério a capacidade de posicionar forças ou outras capacidades ameaçadoras, ou de possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais, em nosso Hemisfério”, diz um trecho do documento de 33 páginas, acrescentando: “O ‘Corolário Trump’ à Doutrina Monroe é uma restauração sensata e eficaz do poder e das prioridades americanas, consistente com os interesses de segurança dos Estados Unidos”.
Essa doutrina, explicitada pelo presidente James Monroe em mensagem ao Congresso em 1823, tinha por lema “a América para os americanos” e serviu como uma das bases ideológicas para a ação dos EUA em todo o continente na manutenção de seus interesses.
O conteúdo do texto segue a linha do que já vinha sendo tratado por Trump em declarações públicas desde o retorno à Casa Branca, bem como pelos seus principais escolhidos para tratar de assuntos estratégicos, como o secretário da Guerra, Pete Hegseth, e secretário de Estado, Marco Rubio. Entre os pontos citados no documento, o reposicionamento de forças militares americanas e a justificativa ao uso de força letal em operações contra o narcotráfico já estão em curso na América Latina e no Caribe.
A nova estratégia de segurança nacional afirma que o engajamento na região deve ser alcançado prioritariamente por dois meios: “alistamento e expansão” de parceiros. Os atores da região devem ser incluídos em tarefas como a estabilização da segurança, controle migratório — um ponto atacado em outros trechos do documento — e combate ao tráfico de drogas. Para atingir tal objetivo, Washington afirma que haverá recompensas e incentivos a “governos, partidos políticos e movimentos da região amplamente alinhados com nossos princípios e estratégia”.
No processo de expansão de alianças, o documento afirma querer “que outras nações nos vejam como seu parceiro preferencial, e iremos — por vários meios — desencorajar sua colaboração com terceiros”.
Política de força
Embora a política estratégica enumere uma série de “meios” para alcançar os objetivos listados, entre elas as capacidades econômica, de inovação tecnológica e o sistema financeiro e de mercado de capitais, o documento cristaliza a nova orientação americana por um uso de política de força. O texto estabelece como um dos princípios estratégicos a “Paz através da força” e a “Predisposição à Não intervenção” — embora não dê esse segundo princípio como certo.
“Para um país cujos interesses são tão numerosos quanto diferentes dos nossos, uma aderência rígida ao não intervencionismo não é possível”, diz o texto. “Ainda assim, essa predisposição deve estabelecer uma barreira alta para o que constitui uma intervenção justificada.”
China
No tópico destinado a tratar do Hemisfério Ocidental, a estratégia não menciona diretamente a China, que tomou dos EUA o lugar como principal parceiro comercial e estratégico de muitos países da região. Contudo, o recado parece claro ao mencionar “influências estrangeiras (…) difíceis de reverter” na região. A insatisfação manifestada no documento com a presença estrangeira na região já foi verbalizada por Trump, que provocou um desconforto internacional com o Panamá ao afirmar que retomaria o Canal do Panamá, afirmando que atualmente a área estava sob controle chinês.
Europa
Outra mudança evidente é na relação com a Europa, que foi descrita no documento como um continente decadente, que se encaminha para o que o texto chama de “extinção civilizacional”. A culpa, segundo Trump, é da imigração sem controle e da perda de soberania causada pela integração, que diluem a identidade nacional dos países europeus.
“Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível em 20 anos ou menos”, diz o documento americano, que deixa explícito o apoio a partidos nacionalistas de extrema direita na Europa, chamados no texto de “partidos patriotas”.
A reação europeia foi imediata. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, afirmou que o país não precisa de “conselhos externos”. Ian Lesser, chefe do escritório da Bélgica do German Marshall Fund, chamou o texto de “perturbador”. Na Itália, o senador Carlo Calenda, de centro-esquerda, afirmou que o documento demonstra que Trump é um “inimigo da Europa e da democracia”. Com informações de O Globo e O Estado de S. Paulo.