Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de novembro de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (10) o líder da Síria, Ahmed al Sharaa, na Casa Branca. O encontro foi um marco para um chefe de Estado sírio e uma consagração para o ex-jihadista.
Sharaa, que liderou uma coalizão rebelde de islamistas responsável por derrubar Bashar al Assad após décadas no poder, é o primeiro líder sírio a visitar a Casa Branca desde a independência do país, em 1946.
“Gosto dele”, disse Trump após o encontro, que ocorreu longe das câmeras. Ele acrescentou que deseja que a Síria se torne um país “muito bem-sucedido” após 14 anos de guerra civil e que Sharaa “pode conseguir isso”.
“É um líder muito forte”, declarou o republicano. “As pessoas diziam que ele teve um passado difícil, todos nós tivemos passados difíceis (…) E penso sinceramente que sem um passado difícil você não tem nenhuma chance.” Trump já havia expressado simpatia pelo presidente interino sírio durante o primeiro encontro entre os dois, em maio, no Golfo Pérsico.
Sharaa chegou discretamente à Casa Branca às 11h37min locais (13h37min no horário de Brasília), sem passar pela entrada principal e sem o protocolo habitualmente reservado a chefes de Estado e de governo estrangeiros, que o presidente americano quase sempre recebe pessoalmente no pórtico.
Os jornalistas também não foram convidados ao Salão Oval na presença dos dois líderes, como costuma ocorrer nas visitas oficiais.
Sharaa foi embora por volta das 13h20min (15h20min de Brasília), e parou por alguns instantes para cumprimentar pessoas que o aclamavam em frente à Casa Branca.
Em um breve comunicado no X acompanhado de algumas fotos, a presidência síria indicou que os dois líderes discutiram “as maneiras de desenvolver e fortalecer” a relação bilateral, bem como “vários temas regionais e internacionais de interesse comum”.
O presidente sírio obteve uma nova pausa de 180 dias da Lei César, que impunha sanções americanas drásticas contra o governo de Bashar al Assad, já suspensa em maio.
O governo de Trump quer uma revogação completa desta lei de 2019, que exclui a Síria do sistema bancário internacional e das transações financeiras em dólares, mas isso requer uma votação no Congresso.
Nem Washington nem Damasco comunicaram em um primeiro momento outro anúncio esperado para esta segunda-feira.
Durante a visita, a Síria deveria assinar um acordo para se juntar à coalizão internacional antiterrorista liderada pelos Estados Unidos, segundo o enviado americano para a Síria, Tom Barrack.
Os Estados Unidos, por sua vez, planejam estabelecer uma base militar perto de Damasco, “para coordenar a ajuda humanitária e observar os desenvolvimentos entre a Síria e Israel”, segundo outra fonte diplomática na Síria.
Da lista de terroristas à Casa Branca
Washington retirou, na sexta-feira, Ahmed al Sharaa, de 43 anos, de sua lista de terroristas.
De 2017 até dezembro do ano passado, o FBI oferecia uma recompensa de 10 milhões de dólares (532 milhões de reais) por qualquer informação que levasse à prisão do líder do antigo braço local da Al Qaeda, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Na quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU também levantou as sanções contra Sharaa, por iniciativa dos Estados Unidos.
Desde que assumiu o poder, o dirigente sírio rompeu com seu passado e se abriu ao Ocidente e aos Estados da região, incluindo Israel, com o qual seu país está teoricamente em guerra.
Também prometeu “redefinir” a relação da Síria com a Rússia de Vladimir Putin, com quem Sharaa se reuniu em Moscou há menos de um mês. A Rússia é um aliado-chave de Assad, que se encontra asilado lá.
“Trump leva Sharaa à Casa Branca para dizer que ele não é mais um terrorista (…) mas um líder pragmático e, sobretudo, flexível que, sob a direção americana e saudita, fará da Síria um pilar estratégico regional”, explicou o analista Nick Heras.
Em maio, Trump havia pedido a Sharaa a se juntar aos Acordos de Abraão, que levaram vários países árabes a reconhecer Israel em 2020.