Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de novembro de 2025
Iniciativa do Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz (HPM) com foco na interação entre o público e protagonistas dos mais diversos segmentos, o programa “Roda de Cultura” encerra a sua segunda temporada na quarta-feira (26), às 17h. O convidado é o veterano desenhista, gravador, pintor e escultor gaúcho Paulo Chimendes, 73 anos.
A pauta do evento é a trajetória profissional deflagrada no início da década de 1970 e que resultou em um dos mais polivalentes, produtivos e queridos nomes das artes plásticas no Rio Grande do Sul. Além de uma conversa descontraída com os participantes, ele terá algumas de suas obras à venda no encontro.
A atividade é gratuita e aberta a qualquer interessado, mas com vagas limitadas mediante reserva por meio do whatsapp (51) 98595-5690. Endereço: Largo João Amorim de Albuquerque nº 72 (próximo ao Theatro São Pedro), no Centro Histórico de Porto Alegre.
Sobre o artista
Nascido em 1953 na cidade gaúcha de Rosário do Sul, o quarto dos 13 filhos de um bancário e de uma dona-de-casa migrou com a família para Porto Alegre em 1966. O talento para o desenho levou o adolescente a aprimorar seus conhecimentos no Atelier Livre da prefeitura, tendo como mestres Vasco Prado, Xico Stockinger e Danúbio Gonçalves, seu “padrinho” artístico.
“Passei a me envolver com praticamente todas as técnicas e acabei realizando em 1972 a minha primeira exposição individual, com 20 desenhos em bico-de-pena, todos vendidos na ocasião”, relembra. “Também trabalhei durante anos em uma banca de revistas no Centro, o que só fez crescer meu interesse por leituras sobre arte, história e filosofia.”
Um outro salto foi dado com a seleção de Chimendes para um curso de técnico em litogravura, realizado em São Paulo sob patrocínio do programa Fullbright, dos Estados Unidos. De volta à capital gaúcha, tornou-se também um dos mais requisitados impressores de obras para colegas como Maria Tomaselli e Iberê Camargo.
Em paralelo, uma intensa produção particular permitiu desde então viver exclusivamente da venda de seus trabalhos, muitos dos quais expostos em galerias e instituições artísticas dentro e fora do Rio Grande do Sul. A carreira é marcada, ainda pelo reconhecimento oficial – desde o Salão do Jovem Artista de 1974 ao troféu especial no Prêmio Açorianos de Artes Plásticas de 2022.
“Domino desenho, pintura, gravura, escultura, cerâmica. Gosto de misturar estilos, influências, pois sou um artista em constante transformação e que preza a liberdade”, ressalta Paulinho, cuja atividade permitiu que conhecesse Argentina, Uruguai, Portugal, Itália, Alemanha e Áustria. Mais de 60 obras com sua assinatura podem ser conferidas na restrospectiva “A Travessia do Tempo”, em cartaz no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) até 4 de janeiro.
O Espaço HPM
Inaugurado como imóvel residencial no final da década de 1920, o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque nº 72 abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz. O empreendimento passou por ampla revitalização e, sob o comando da família Patrício desde 2014, hospeda anônimos e famosos, além de abrigar o Espaço Cultural HPM. No foco estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, em parceria com a empresa Práxis Gestão de Projetos.
A origem do imóvel remonta a Luiz Alves de Castro (1884-1965), o “Capitão Lulu”, dono do cabaré-cassino “Clube dos Caçadores”, instalado de 1914 a 1938 na rua Andrade Neves (a poucas quadras dali) e enaltecido por cronistas e escritores como Erico Verissimo. A fortuna amealhada pelo empresário com a atividade ainda bancou, na mesma época, a construção do imponente edifício que hoje sedia o Espaço Cultural Força e Luz (Rua da Praia).
Contratado por Lulu, o engenheiro e arquiteto teuto-gaúcho Alfred Haasler projetou quatro andares com subsolo, pátio interno e dois diferenciais naquele tempo: garagem e sistema francês para calefação de água, tudo em estilo eclético, com mármores, azulejos e outros materiais importados. O conjunto está inventariado como de interesse histórico pelo Município e contemplado com o programa Monumenta, permitindo a recuperação de fachada, cobertura e estrutura elétrica.
O proprietário não teve muito tempo para aproveitar tamanho requinte, pois migrou no início da década de 1930 para o Rio de Janeiro, ampliando atividades (foi sócio do Cassino da Urca e dono de diversos empreendimentos). Com o decreto federal que em 1946 proibiu os jogos-de-azar, Lulu se desfez do seu patrimônio em Porto Alegre. O palacete junto à Praça da Matriz – até então alugado a terceiros – trocou de mãos e foi sede provisória do Clube do Comércio, até ser adquirido em 1949 por um comerciante cuja nora, Ilita Patrício, mantém hoje com a família o estabelecimento hoteleiro.