Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de julho de 2025
A tecnologia da Nvidia, gigante americana dos chips e primeira empresa do mundo a alcançar US$ 4 trilhões em valor de mercado, está por trás de um dos supercomputadores mais potentes da América Latina voltados para aplicações em inteligência artificial (IA). O equipamento está sendo instalado no Brasil e utiliza os processadores Blackwell B200, considerados os mais avançados da empresa para rodar sistemas de IA.
O conjunto de máquinas será operado pelo Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (Ceia-UFG), em Goiânia. Ao todo, oito supercomputadores serão entregues até o fim deste mês, com parte da infraestrutura instalada no data center do governo estadual.
Com essa nova geração de chips e a ampliação da capacidade computacional, o centro pretende acelerar pesquisas e projetos voltados à criação de soluções em IA adaptadas à realidade brasileira. Entre os estudos em andamento, estão a geração de “humanos digitais” e o desenvolvimento de ferramentas para identificar deepfakes em vídeos e áudios.
“Hoje, os pesquisadores brasileiros têm dificuldade até para errar porque falta infraestrutura para experimentar. Essa limitação impõe um teto. Em uma corrida, é como se seu concorrente tivesse um motor de 400 cavalos, enquanto você tem um de 40”, afirma Anderson Soares, coordenador científico do Ceia-UFG.
O investimento total nos equipamentos foi de R$ 40 milhões, com recursos dos governos federal e estadual. Segundo Soares, cerca de 70 projetos devem ser beneficiados, entre pesquisas acadêmicas e inovações desenvolvidas em parceria com empresas e startups. Aproximadamente 750 pessoas integram as equipes envolvidas.
Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Goiás, José Frederico Lyra Netto, o centro já tem contribuído para melhorar a produtividade de empresas de setores como saúde, direito e mobilidade, com aplicações diretas de IA. Ele destaca ainda o impacto na formação de profissionais especializados.
“O investimento na área gera crescimento econômico, empregos melhores e puxa toda uma geração de capital humano em tecnologia. A gente entende que é estratégico para o Estado”, afirma Lyra Netto.
A compra dos supercomputadores foi realizada com um desconto de 30% oferecido pela Nvidia a instituições acadêmicas e centros de pesquisa. O modelo escolhido foi o DGX, projetado especificamente para cargas intensivas de IA. É o mesmo utilizado pela OpenAI nos primeiros estágios de desenvolvimento do que viria a se tornar o ChatGPT.
No coração das máquinas está o chip Blackwell B200, que representa um avanço significativo em desempenho. Ele é capaz de acelerar em até 15 vezes a execução de modelos de IA e triplicar a velocidade de treinamento em comparação com a geração anterior de chips da Nvidia.
Essa potência é essencial em pesquisas que lidam com grandes modelos de linguagem, como os que sustentam sistemas de IA generativa — a exemplo do ChatGPT, da OpenAI, e do Gemini, do Google. Com os novos supercomputadores, o tempo para treinar um sistema de voz de IA caiu de três semanas para apenas seis dias. Entre os projetos, está o desenvolvimento de vozes com sotaques regionais, como o goiano, e a criação de avatares digitais capazes de interagir por videoconferência com sincronização labial e preservação do tom emocional da fala original.
(Com O Globo)