Quarta-feira, 23 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de setembro de 2022
As últimas sessões têm sido de forte volatilidade para o dólar em relação ao real, com a disparada de quase 2% registrada na terça-feira (13). A semana passada foi de queda para divisa americana, após uma terça (6) de forte alta, mas uma sequência de baixa nos dias seguintes. Já o fechamento dessa quinta-feira (15) foi com alta, com o dólar rondando os R$ 5,23.
Boa parte desses movimentos é atribuída a fatores como os sinais de alta de juros nos Estados Unidos, como a repercussão de dados de inflação fortes na maior economia do mundo, ou sinais de que o Banco Central ainda demorará a reduzir os juros por aqui. O noticiário político, às vésperas do primeiro turno das polarizadas eleições presidenciais, ainda parece não fazer tanto preço no câmbio.
Analistas e estrategistas de mercado veem fatores políticos podendo impactar mais o mercado de câmbio, tanto neste ano quanto no ano que vem. Enquanto alguns veem que o real pode se valorizar passadas as eleições de outubro, uma vez que tira um fator de incerteza do radar, outros apontam que um pleito mostrando pouca diferença entre os principais concorrentes pode ser um risco para a moeda. Olhando mais para frente, eventuais declarações do ganhador das eleições sobre medidas com impacto na política fiscal podem levar a um enfraquecimento do câmbio.
Para os estrategistas do Goldman Sachs, no curto prazo, um resultado acirrado nas urnas pode ser o maior “risco de cauda” para o real neste momento, com uma disputa apertada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Contudo, apontam, a moeda brasileira ainda é “compra” frente a pares que não o dólar contanto que a eleição siga “sem drama”.
O banco nota que algumas medidas de percepção da eleição têm se mantido conforme se aproxima 2 de outubro, o que eles atribuem a uma combinação de elevado “carry” (retorno de taxa de juros) da moeda brasileira, maior sensibilidade (beta) da moeda aos preços das commodities, a queda recente do dólar e o ambiente global.
Além disso, os altos preços das matérias-primas, a inflação (que permaneceu por meses em dois dígitos) e uma recuperação econômica moderada proporcionam algum alívio temporário para os desafiadores problemas fiscais do Brasil. Esses fatores podem estar tirando o foco dos investidores de potenciais diferenças de política econômica entre os principais candidatos, destacam.
“De fato, alguns investidores de câmbio parecem mais preocupados com um resultado próximo e qualquer volatilidade (derivada da) política do que com um resultado que apresente uma ampla margem de vitória. Nós tendemos a concordar”, apontam.
De toda forma, ponderam, ainda que o peso mexicano seja a moeda favorita do Goldman Sachs para compra na América Latina, o elevado “carry” e baixa exposição da moeda brasileira a algumas fontes de choques globais (como os originados na Europa) mostram que o real é uma “compra razoável frente a pares que não o dólar nas próximas semanas, desde que as eleições continuem sem grandes reviravoltas”.
Em análise da semana passada, Bertrand Delgado, estrategista para mercados emergentes do Société Générale, destacou que a taxa de câmbio brasileira deverá permanecer dentro de um intervalo estreito, mas com inclinação para enfraquecimento, segundo o qual investidores continuarão tensos em relação às perspectivas fiscais no pós-eleição, em um combo que impulsionará o dólar para R$ 5,95 em junho de 2023.
Delgado citou em relatório a força do dólar no exterior, os rendimentos (“yields”) mais altos dos títulos do Tesouro dos EUA, a elevada volatilidade dos mercados – com o Federal Reserve com discurso contracionista para a política monetária – e a percepção de fim do ciclo de alta de juros no Brasil como ventos contrários à moeda doméstica, afetada ainda pela piora dos termos de troca.
“Enquanto isso, os investidores permanecerão provavelmente inquietos sobre a sustentabilidade fiscal pós-eleições, especialmente sobre como reverter os gastos fiscais impulsionadores (redução de impostos, programas de auxílio) à medida que a economia desacelera rapidamente (de 2022 para 2023)”, acrescentou o estrategista.
Assim, o Société Générale estima que o dólar fechará este ano em R$ 5,50, disparando ao fim de junho de 2023 a R$ 5,95.
Mas a moeda brasileira ainda teria pontos favoráveis – o retorno ajustado pelo risco e o valuation “barato”, que funcionariam como um “colchão”.
A equipe de análise econômica do BV avalia que a expectativa de câmbio pressionado se mantém. A combinação do cenário de redução da liquidez no mercado internacional com as incertezas locais, estas relacionadas à política econômica após as eleições, devem manter o real pressionado frente ao dólar. “Assim, mantemos nossa expectativa de que o dólar encerre este ano em R$ 5,50 e o próximo em R$ 5,30”, aponta.
A XP avalia que a taxa de câmbio tem mostrado bastante volatilidade, mas segue com a previsão de R$ 5,00 por dólar ao final de 2022 e de R$ 5,30 ao final de 2023, apontando que real está entre as moedas emergentes que mais desvalorizaram em relação ao dólar nos últimos meses.
O cenário base considera que o real apresentará alguma valorização até o final do ano devido a: 1) descompressão dos prêmios de risco após as eleições locais, 2) níveis ainda relativamente altos de preços de commodities (em que pesem as correções baixistas recentemente) e 3) sinais de desinflação (ainda que gradual) na economia global até o final de 2022. “Por outro lado, acreditamos que o real depreciará novamente no próximo ano em linha com as preocupações com a agenda de consolidação fiscal”, reitera.