Quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Violência em saída noturna afeta 90% das mulheres, aponta pesquisa que mostra principais situações de constrangimento e importunação para mulheres que se deslocam sozinhas

Nove em cada dez mulheres relatam já ter enfrentado algum tipo de violência durante deslocamentos noturnos para atividades de lazer, segundo pesquisa dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber. Os episódios citados incluem assédio, importunação sexual, sequestro e estupro.

A violência mais comum é a de olhares insistentes e cantadas inconvenientes, mencionada por 72% das entrevistadas. O crime de importunação sexual aparece em seguida, vivido por 35% das mulheres, enquanto 34% relatam assalto, furto ou sequestro relâmpago. Entre mulheres negras, 21% afirmam ter sofrido racismo durante deslocamentos à noite.

Para 10% das entrevistadas, saídas noturnas para bares, restaurantes, festas, shows, teatros e outros eventos resultaram em estupro — percentual que dobra entre mulheres LGBTQIAPN+.

O medo é constante: apenas 21% das mulheres dizem não sentir receio ao sair à noite para lazer. Outras 63% relatam sentir “um pouco de medo”, e 16% afirmam sentir “muito medo”. Entre mulheres pretas, esse índice chega a 20%.

O retorno para casa é percebido como a etapa mais insegura do trajeto por 35% das mulheres. Entre entrevistadas de 18 a 34 anos, o percentual sobe para 42%. Como consequência, a maior parte evita circular sozinha: 53% preferem estar acompanhadas por parceiros, 39% por familiares e 35% por amigos. Apenas 6% costumam sair desacompanhadas.

Para reduzir riscos, 99% das entrevistadas adotam algum tipo de estratégia que restringe sua liberdade. Entre elas estão evitar determinadas roupas e acessórios (78%), escolher caminhos mais longos quando considerados mais seguros (73%) e até deixar de sair à noite (66% das mulheres; entre mulheres pretas, 63%).

“A violência sexual não é um episódio isolado, mas uma barreira concreta ao direito ao lazer e ao pleno uso da cidade, afetando diretamente como as mulheres vivem, circulam e organizam suas rotinas”, afirma Maíra Saruê, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva. Segundo ela, a limitação da autonomia feminina é reflexo de desigualdades estruturais, como menor remuneração e sobrecarga de tarefas de cuidado, fatores que já restringem o tempo disponível para lazer.

Maíra ressalta que a ausência das mulheres dos espaços públicos retroalimenta o problema. “Quando uma mulher deixa de frequentar determinados ambientes por medo, isso impacta não só sua autonomia e bem-estar, mas também reduz a presença de outras mulheres nesses locais”, afirma.

As entrevistadas relacionam a insegurança noturna a falhas estruturais da cidade, como falta de iluminação adequada, ruas pouco movimentadas e ausência de policiamento.

A pesquisa “Mulheres e mobilidade noturna: percepções sobre (in)segurança nos momentos de lazer” ouviu 1.200 mulheres de 18 a 59 anos, todas com hábito de sair à noite para lazer ao menos duas vezes por mês.

 

(Com informações do Valor)

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