Domingo, 24 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de agosto de 2025
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse nesse sábado (23) que os países do Sul Global devem pressionar a Rússia pela paz na guerra com a Ucrânia, inclusive ajudando a levar o líder russo Vladimir Putin à mesa de negociações.
“Eu reafirmei minha disponibilidade para qualquer formato de reunião com o chefe da Rússia. No entanto, vemos que Moscou está mais uma vez tentando prolongar ainda mais a situação”, escreveu Zelensky na plataforma de mídia social X após conversar com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. “É importante que o Sul Global envie sinais relevantes e empurre a Rússia em direção à paz.”
Na última sexta-feira (15), o líder russo se encontrou com Donald Trump no Alasca para definir o futuro da guerra na Ucrânia. Em uma reunião a portas fechadas, os líderes conversaram por mais de três horas, no entanto, nenhum acordo foi firmado na ocasião.
Horas depois da cúpula, Putin afirmou que a reunião abriu o caminho para a paz na Ucrânia, mas sem detalhes da discussão.
Líderes europeus compareceram em massa para uma reunião com Trump na Casa Branca no início da semana. Durante o encontro, eles reforçaram a necessidade de estipular “garantias de segurança” para a Ucrânia. Enquanto isso, o presidente americano declinou negociações para um cessar-fogo e afirmou que as conversas poderiam se basear no fim do conflito.
Como estão as negociações?
Conforme a agência de notícias Reuters, Vladimir Putin vai exigir ficar com todo o Donbass como condição para assinar um acordo de paz com o governo ucraniano. Além de garantias de que o país vizinho não ingressará na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nem terá tropas ocidentais em seu território.
Caso confirmadas, as exigências colidem com as condições que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem afirmando ter conseguido após reunir-se no Alasca com Putin.
Uma delas é o envio de tropas ocidentais ao território ucraniano após o fim da guerra; outra, a de que a Ucrânia ficará “com muito território” — o Donbass corresponde a cerca de metade das áreas atualmente ocupadas por tropas russas.
As regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk compõem uma região conhecida como Donbas, uma abreviação de “bacia do rio Donets”. A região vive tensões entre a população ucraniana e a russa locais que remontam às Guerras Mundiais.
Recusa ucraniana
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelesny, já afirmou que não abrirá mão do Donbass, porque isso também significará, segundo Zelensky, que Moscou seguirá tentando se expandir territorialmente até a Europa.
Segundo as fontes russas consultadas pela Reuters, Putin cedeu às demandas territoriais que apresentou em junho de 2024, que exigiam não só o Donbass, mas também Kherson e Zaporizhzhia, no sul. Kiev rejeitou esses termos na ocasião por considerá-los equivalentes à rendição.
Em sua nova proposta, o presidente russo manteve sua exigência de que a Ucrânia se retirasse completamente das partes do Donbass que ainda controla, de acordo com as três fontes. Em troca, Moscou interromperia as atuais linhas de frente em Zaporizhzhia e Kherson, acrescentaram.
A Rússia controla cerca de 88% do Donbass e 73% de Zaporizhzhia e Kherson, de acordo com estimativas dos EUA e dados de fontes abertas.
Moscou também está disposta a entregar as pequenas partes das regiões de Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk, na Ucrânia, que controla como parte de um possível acordo, disseram as fontes.
Exigências
Putin, no entanto, manteve suas exigências anteriores de que a Ucrânia desista de ingressar Otan e de que a aliança militar estabeleça um compromisso juridicamente vinculativo de que não se expandirá mais para o leste
O líder russo também quer a garantia por escrito de que nenhuma tropa ocidental seja enviada à Ucrânia como parte de uma força de paz, disseram as fontes. No início do ano, a União Europeia propôs criar uma força de paz composta por solados europeus que estariam na Ucrânia não para lutar ao lado das tropas de Kiev, mas para garantir o fim de combates.
“Encenação para Trump”
O cientista político Samuel Charap, chefe de Política para Rússia e Eurásia do centro de estudos políticos Rand, disse que qualquer exigência para que a Ucrânia se retire do Donbass continua sendo inviável para Kiev, tanto política quanto estrategicamente.
“A abertura à ‘paz’ em termos categoricamente inaceitáveis para o outro lado pode ser mais uma encenação para Trump do que um sinal de uma verdadeira disposição para chegar a um acordo”, acrescentou. “A única maneira de testar essa proposição é começar um processo sério no nível de trabalho para discutir esses detalhes.” Com informações da agência de notícias Reuters, g1 e CNN Brasil.