Sábado, 27 de abril de 2024

A Copa do Mundo vai ser a cada dois anos? Entenda o debate e veja quem é contra e a favor

As seleções nacionais entram em campo mais vezes do que deveriam e para partidas que interessam a pouca gente. Este é um diagnóstico da Fifa, com o qual você provavelmente concorda — ou tem alguém realmente empolgado assistindo às 18 rodadas de Eliminatórias para o Mundial do Qatar? Remediar o problema, porém, é um desafio para a entidade, que já enfrenta resistência de alguns dos principais integrantes do ecossistema da bola.

O plano consiste em remodelar o calendário de forma radical a partir de 2024, tendo como vitrine principal a realização da Copa do Mundo a cada dois anos, ao invés de quatro, como funciona desde a criação do torneio, em 1930. Também haveria disputas bianuais dos torneios continentais, como a Copa América e a Eurocopa, logicamente nos anos ímpares, e as competições de base se tornariam mais recorrentes.

Por outro lado, a entidade promete agrupar as partidas de seleções a fim de reduzir o número de viagens dos atletas e as interrupções dos campeonatos de clubes. A federação acredita ainda que permitiria aos treinadores das equipes nacionais transmitir seu modelo de jogo e entrosar melhor o time.

À frente dessa empreitada está o francês Arsène Wenger, que treinou o Arsenal por mais de duas décadas e, desde o fim de 2019, ocupa o cargo de Chefe Global de Desenvolvimento de Futebol da Fifa. Ele explicou em entrevista que pretende “deixar o calendário mais simples e claro” e “focar em competições que sejam realmente significativas”, ao respeitar a proporção de “80% da temporada para competições de clubes e 20% para competições de seleções”. A meta, segundo ele, seria melhorar o futebol globalmente e tentar torná-lo mais competitivo.

Isso passa pela diversificação e ampliação de receitas, de modo que haja mais dinheiro a circular por países da periferia do jogo. Esse movimento vai ao encontro de outros promovidos pela entidade, como a ampliação do número de participantes da Copa, de 32 para 48 países, a partir da edição de 2026, na América do Norte. Não à toa, os principais entusiastas dessa nova visão sobre o Mundial são coadjuvantes do jogo: a Arábia Saudita apresentou a ideia aprofundada por Wenger, e a Ásia e a África se mostram mais simpáticas à medida.

Em lados opostos

Por outro lado, há resistência nos dois principais centros do esporte: a Europa e a América do Sul. O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, prometeu um boicote do bloco caso o presidente da Fifa, Gianni Infantino, leve adiante o projeto bienal. E afirmou que “o valor da Copa é porque acontece a cada quatro anos”.

“Isso vai contra os princípios básicos do futebol. Jogar um grande torneio a cada verão (no hemisfério norte), para os jogadores, será a morte. Se for a cada dois anos, vai bater com a Copa do Mundo feminina e o torneio olímpico de futebol”, justificou o dirigente em entrevista ao jornal britânico “The Times”.

Ceferin alega que as federações da Uefa jamais se posicionariam a favor da proposta. Mas se considerarmos que boa parte das nações do bloco raramente ou nunca participa de mundiais, há brecha para que também elas enxerguem vantagem em aumentar a frequência dos eventos.

O outro argumento do cartola, relativo ao desgaste físico para os atletas, é mais difícil de refutar. A FIFPro, espécie de sindicato mundial dos jogadores, já se manifestou em oposição. O órgão clama sim por uma reforma no calendário, mas uma que reduza a carga de trabalho dos profissionais. Em nota, alegou que “sem a concordância dos jogadores, que dão vida a todas as competições em campo, essas reformas não terão a legitimidade necessária”.

Uma posição curiosa, que ajuda a rever a dimensão dessa articulação, vem justamente da Conmebol. Em nota divulgada no mês passado, a entidade expressou temor pela banalização do torneio, alegou que seria praticamente impossível administrar o novo calendário e disse que não há justificativa esportiva para afetar o tempo de preparação das seleções para os grandes eventos. Curiosamente, há cerca de três anos, o próprio presidente da confederação sul-americana, Alejandro Domínguez, defendera a realização de Copas do Mundo bianuais, quando da criação da Liga das Nações da Europa, que restringiu a disponibilidade de seleções deste continente para amistosos com sul-americanos.

A CBF e seus principais representantes, como o técnico Tite e o coordenador de futebol Juninho Paulista, ainda não opinaram publicamente sobre a proposta.

Busca por atenção

A proposta da Fifa segue uma tendência global: a busca por grandes jogos, capazes de produzir grandes receitas e atrair grandes audiências. Os próprios clubes, os mesmos que se queixam do calendário sobrecarregado, articularam-se recentemente para a criação da Superliga, que adicionaria novas datas a esse bolo. Essa iniciativa foi inicialmente freada, mas a força por trás dela deve seguir.

 

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