Quarta-feira, 08 de maio de 2024

Governo brasileiro muda política e amplia postos no exterior

Depois de cinco anos em contração, o Itamaraty planeja expandir seu serviço exterior em 2022, com a abertura da primeira embaixada pelo governo Bolsonaro e cinco novos consulados. A proposta expansionista inverte a lógica de redução de postos diplomáticos desde o governo Michel Temer e atende a demandas da comunidade brasileira na Europa e nos Estados Unidos e exportadores interessados nos mercados do Oriente Médio e da China.

A menina dos olhos do projeto é a instalação de uma embaixada em Manama, no Bahrein, Golfo Pérsico. Conforme fontes diplomáticas, o Itamaraty quer ampliar a equipe em Pequim, na China, com a possibilidade de um novo consulado no país, em outra cidade.

Também estuda enviar uma nova delegação para representar o Brasil na União Africana, em Adis-Abeba, na Etiópia, abrir um consulado em Marselha, na França, e outro nos Estados Unidos – a cidade mais provável é Seattle, mas há também discussão sobre Portland.

Para concretizar a expansão diplomática, o chanceler Carlos França ainda depende da confirmação do reforço no orçamento prometido à pasta, que precisa ser votado no Congresso. Em fase de planejamento, o aumento principalmente de consulados virá acompanhado do fechamento de pelo menos mais uma embaixada de pequeno porte, para compensar o investimento inicial e custeio.

O ministro das Relações Exteriores afirmou que conseguiu com Bolsonaro mais R$ 400 milhões para 2022, tendo, ao todo, R$ 4,3 bilhões para o exercício. Será um reforço de 27% no orçamento em comparação com a estimativa atual. Segundo autoridades a par das finanças, mais de 80% das despesas do Itamaraty são pagas em moedas estrangeiras, e a desvalorização do real reduziu a disponibilidade de dinheiro nos últimos anos.

O projeto de lei orçamentária indica que R$ 1,1 bilhão será investido no funcionamento das representações nacionais no exterior e outros R$ 68 milhões nos serviços consulares.

Carlos França pretende fazer remanejamentos de pessoal para preencher os novos postos. Ele quer melhorar a assistência aos brasileiros no exterior, por isso a revisão na rede de postos consulares na Ásia e nos EUA.

A embaixada brasileira no Bahrein foi prometida por Bolsonaro, que autorizou os xeiques a abrirem uma representação em Brasília. Atualmente, a embaixada brasileira no Kuwait representa cumulativamente os interesses nacionais no Bahrein.

Um dos principais objetivos de Bolsonaro no mundo árabe é atrair investidores para projetos de infraestrutura no Brasil. O BNDES vai capacitar diplomatas na busca por investimentos estrangeiros, e entre 15 embaixadas devem passar a ter os novos setores de “atração de investimento direto”, assim como existem atualmente equipes diplomáticas dedicadas a temas políticos, econômicos, culturais e de ciência e tecnologia.

Agronegócio

Além de buscar investimentos, a expansão de mercados consumidores também voltou a ser cobrada por agentes do agronegócio, que desejam mais empenho dos diplomatas. Embora o setor viva um momento de bonança, esse é um trabalho que deixou a desejar no governo Bolsonaro até este ano, avaliou o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

“Precisamos de mais atuação diplomática de resultados, precisamos buscar mercados e conservar os atuais, como a China”, afirmou. “A Tereza Cristina (ministra da Agricultura) trabalha muito isso, mas o Itamaraty só agora com o chanceler Carlos França desempenha esse processo”, ressaltou. “O acordo do Mercosul com a União Europeia tem três anos e não saiu do papel até hoje.”

Ao lado do chanceler numa cerimônia pública na Sala Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acusou o Itamaraty de permitir nos últimos 30 anos um fechamento da economia brasileira e reclamou da redução dos fluxos comerciais. “Isso é uma falha de todos nós”, disse Guedes, cobrando também do Ministério da Economia, que tem hoje sob sua responsabilidade o comércio exterior.

O novo consulado na China deve ser aberto em Chengdu, na província de Sichuan, no sudoeste, a 1.800 quilômetros de distância de Pequim. Com 16,5 milhões de habitantes, a cidade é um polo de inovação científica e tecnológica. O posto será o quarto consulado do Itamaraty no país asiático. O Brasil conta com as representações em Xangai, Hong Kong e Cantão, além da embaixada na capital e um escritório em Taiwan.

A gestão do ex-chanceler Ernesto Araújo, marcada pela adoção de posições ideológicas conservadoras, extinguiu sete postos no ano passado. Todos eram de categoria C e D, menos cobiçados, em países do Caribe e da África, regiões que estavam em foco durante os governos do PT, com a chamada política Sul-Sul e os objetivos de maior penetração geopolítica do País na ocasião.

Bolsonaro também desativou as representações diplomáticas e consulares na Venezuela, retirando o pessoal nos primeiros meses da pandemia da covid-19. O corte se deu por razões políticas.

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