Domingo, 19 de maio de 2024

Aos 100 anos, mulher relata em livro como resistiu ao nazismo na Holanda

Em 1943, uma jovem de 21 anos foi incumbida de sua primeira missão na resistência holandesa contra a invasão nazista. Na Estação Central de Amsterdã, Selma van de Perre recebeu uma maleta com papéis que deveriam ser entregues em cinco cidades: Leiden, Dordrecht, ‘s-Hertogenbosch, Maastrich e Eindhover.

O caminho era longo e, logo na primeira parada, ela foi abordada por oficiais alemães e holandeses no posto de controle da estação de Leiden. Seu nervosismo e pressa para sair da plataforma provavelmente a denunciaram.

Questionada sobre o que carregava na maleta, ela simplesmente respondeu: “Papéis”. Os guardas, então, pediram para que Selma abrisse a bolsa para ser revistada. Sem jeito, a garota desatou os fechos e revelou o que havia no interior da mala. Cinco pacotes embrulhados em papel pardo com as iniciais L, D, H, M e E estavam à vista dos policiais. Era seu fim, pensou. Mas, para sua surpresa, um dos oficiais alemães disse que estava tudo bem e que ela podia seguir viagem. E assim o fez.

Uma dor de estômago pelo nervosismo, no entanto, a abateu – como aconteceria outras vezes em momentos de estresse e medo. Ao chegar em casa, foi acolhida por amigos, que lhe deram uma bebida forte para recuperar os ânimos. A missão só foi concluída no dia seguinte.

Luta

Episódios como esses fizeram parte da vida de Selma por cerca de dois anos – até que ela foi levada ao campo de concentração Vught em julho de 1944 e, em setembro do mesmo ano, para Ravensbruck. Em abril de 1945, foi libertada e, após o fim da guerra, descobriu que seu pai, sua mãe e sua irmã mais nova, que também haviam sido levados para campos de concentração espalhados pela Europa por serem judeus, morreram em condições subumanas.

Já seus dois irmãos mais velhos sobreviveram à guerra ao servir no Exército e na Marinha ingleses e, então, Selma pode construir uma nova vida em Londres, onde constituiu família e, no último dia 7 de junho, completou 100 anos.

Com o apoio de amigos e familiares, a sobrevivente do Holocausto escreveu um livro sobre sua vida e, principalmente, sobre o papel de grupos de resistência contra o avanço do nazismo. Meu nome é Selma: a extraordinária biografia de uma combatente da resistência judaica holandesa e sobrevivente do campo de concentração de Ravensbruck chegou ao Brasil em março de 2022 pela Editora Seoman.

“Com o passar dos anos, fui percebendo que muitas pessoas não sabiam o que aconteceu com a resistência de trabalhadores holandeses durante a guerra. Então, eu achei que era extremamente necessário que alguém escrevesse sobre isso”, relata Selma. “Muitos livros de judeus que sobreviveram aos campos de concentração foram escritos, mas muito pouco foi dito sobre a resistência existente na Holanda.”

Segundo a autora, que também é antropóloga e jornalista, o projeto começou enquanto ela escrevia notas de suas memórias na virada do milênio. O manuscrito do livro começou a ser redigido entre 2014 e 2015. “Houve um longo período de reflexão em que eu não queria me sentar e escrever sobre isso, porque algumas memórias do que havia acontecido estavam muito vivas”, recorda.

Apesar de ter sido difícil no começo, ela concluiu mais essa missão e teve sua obra publicada em várias línguas aos 99 anos. Não é à toa: sua história, de fato, é digna de livro.

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