Domingo, 06 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 7 de maio de 2023
Inicialmente resistente a Fernando Haddad, a chamada “Faria Lima” – avenida em São Paulo que reúne escritórios dos principais bancos e corretoras do País – deixou de torcer o nariz para o ministro da Fazenda e passou a vê-lo como um aliado no atual governo. Mesmo entre os mais críticos ao presidente Lula há hoje boa vontade com o responsável pela política econômica.
A percepção é de que ele é o único em Brasília a conseguir contestar o PT, em sua cruzada pela expansão dos gastos, e ter o respaldo do presidente.
Houve frustração entre a elite econômica quando Haddad foi escolhido ministro da Fazenda. Havia uma esperança de que o presidente pudesse optar por um nome mais palatável ao mercado financeiro, como o economista Persio Arida, que chegou a participar da equipe de transição, ou o ex-ministro Henrique Meirelles. Dentro do PT, no entanto, essas opções eram rejeitadas.
O argumento dos petistas era de que seria um estelionato eleitoral fazer a campanha com a promessa de revogar o teto de gastos e escolher, para conduzir a Fazenda, um nome que o tivesse defendido ou até implementado – caso de Meirelles. O anúncio de que Haddad assumiria o posto foi recebido com ceticismo e frieza.
Com o entorno de Lula, no entanto, mais crítico às políticas econômicas conservadoras, com Aloizio Mercadante no BNDES e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com poder junto ao Planalto, a percepção sobre Haddad passou a mudar. Na visão de um executivo do setor financeiro, chega a haver uma “torcida” por Haddad, dada suas posições mais “moderadas” na área econômica.
“O ministro tem tido uma conduta muito responsável e tem procurado ser sensível às preocupações do mercado”, afirma Ricardo Lacerda, fundador e CEO do banco de investimento BR Partners. “A situação não é simples, dado o conflito da política fiscal expansionista do governo e a necessidade do Banco Central de manter uma disciplina monetária. Mas eu diria que hoje Haddad é muito mais parte da solução do que do problema”, diz Lacerda, que declarou voto no ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições.
Haddad passou a ser visto, também, como a única voz a contrariar Lula, em batalhas que ora ganha, ora perde. Com isso, tem tido o esforço reconhecido entre empresários e banqueiros. A avaliação predominante entre atores econômicos ouvidos é a de que Haddad está em um ambiente político difícil, mas tem persistido em pautas importantes, como o desenho do arcabouço fiscal.
Diálogo
Também tem ficado de lado a percepção de que Haddad assume postura dogmática. A avaliação agora é que ele tem se mostrado aberto ao diálogo, curioso sobre os diferentes pontos de vista e que admite mudar de ideia.
Quando um grupo de empresários e advogados foi a Brasília para discutir o retorno do voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a sensação geral era de que haveria pouca disposição do ministro em revisar sua posição. Primeiro, cogitaram agendar um jantar com Haddad, mas foram avisados de que ele não aceitaria. Ficou acertada uma reunião na Fazenda, a qual os presentes acreditavam que duraria 15 minutos.
Ao chegar ao encontro, Haddad sentou-se e falou sobre sua conhecida avaliação sobre o Carf – a de que era necessário restaurar o voto de qualidade a favor do fisco e contra o contribuinte. “Ministro, entendo seu ponto, mas discordo completamente”, disse um dos presentes. Haddad se dispôs a ouvir e a negociar, em uma reunião que durou quase duas horas, um acordo que fosse aceitável para contribuintes e União.
“A mim, me surpreendeu positivamente. Eu já sabia do bom histórico do Haddad na prefeitura de São Paulo, quando conseguiu reduzir de modo expressivo a dívida do município. Mas, de todo modo, em meio a visões distintas dentro do governo Lula, está prevalecendo, na economia, até este momento, a diretriz dada por ele. E essa diretriz é correta: responsabilidade fiscal intertemporal”, afirma Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Renascença.
Críticas
A crítica mais comum direcionada ao ministro é quanto à negociação com o Congresso. Um sócio de uma corretora de investimentos pondera que há sinais de inabilidade por parte da equipe econômica no trato com o Congresso. Ele cita o exemplo da medida provisória sobre paraísos fiscais editada pelo governo no curso da discussão da reforma tributária, o que gerou críticas entre parlamentares.
Outro ponto mais controverso é o da discussão sobre a redução da taxa de juros. Haddad tem cobrado o presidente do BC pela redução da Selic de forma mais rápida. Sobre esse tema, um executivo da Faria Lima – que se diz “positivamente surpreso” com o ministro – afirmou que pode não interessar a Haddad, no momento, ser visto como alguém que mantém um relacionamento “construtivo” com o BC quando o próprio Lula faz críticas.