Sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Calote de importadores argentinos já chega a 43 bilhões de dólares

Às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina, no domingo, o clima é de caos e paralisia na economia vizinha. Com recessão e inflação de 138% em 12 meses, a crise respinga no Brasil. As exportações brasileiras de veículos despencaram em agosto e setembro, enquanto fabricantes de calçados temem que restrições recentes ao acesso a dólares atrasem, ainda mais, pagamentos dos compradores argentinos.

A dívida de empresas argentinas com importações não pagas poderá chegar a US$ 43,1 bilhões no fim do ano, estimou a consultoria Abeceb, a pedido do jornal La Nación. É praticamente o dobro do que havia no fim de 2021.

Os atrasos têm a ver com a escassez de dólares. Na semana passada, o Banco Central argentino (BCRA) perdeu US$ 650 milhões em reservas cambiais, conforme a Empiria Consultores. Nos cálculos da consultoria, as reservas estão negativas em US$ 6,8 bilhões.

Na reta final da campanha eleitoral, até mesmo a cotação do dólar blue — negociado no mercado informal — perdeu a referência. As principais casas de câmbio informais, que são balizador do mercado paralelo, anunciam a cotação de 900 pesos por dólar, mas, nas ruas e nas cuevas dos fundos de lojas de Buenos Aires, a taxa estava entre 990 e 1065 pesos por dólar ontem.

Para conter a demanda, o BCRA congelou ativos em dólar dos bancos e estabeleceu mais restrições a importações, no último dia 12. As medidas poderão gerar mais atrasos no pagamento das importações, conforme a dívida estimada pela Abeceb.

Fator de risco

O comércio com o país vizinho já vinha prejudicado pela crise dos últimos anos, mas piorou nos últimos meses.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que uma eventual vitória de Javier Milei, o candidato de extrema-direita que concorre à Presidência na Argentina, preocupa o governo brasileiro.

“É natural que eu esteja (preocupado). Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um… Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação”, disse Haddad em entrevista à agência Reuters.

Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China e dos EUA, a Argentina tem a particularidade de ser um mercado para a indústria, que tem dificuldades de competitividade internacional.

Os argentinos compram veículos, calçados, cosméticos e produtos de higiene do Brasil. Em muitos casos, são de multinacionais que usam as fábricas brasileiras para fornecer para a América do Sul. Na indústria automobilística, as montadoras adotam estratégia regional — unidades de Brasil e Argentina têm funções complementares.

Principais produtos

A Abicalçados, entidade dos fabricantes de calçados, informou que as medidas do BCRA deverão “prejudicar ainda mais a já delicada situação”. “Alguns exportadores nos reportam atrasos de pagamentos excessivos, de mais de seis meses (180 dias)”, disse a entidade. “Muitas empresas deixam de exportar para aquele mercado, especialmente menores”.

A Argentina é o principal destino dos calçados brasileiros no exterior, mas as vendas vêm enfrentando obstáculos desde junho. Em número de pares, as vendas para a Argentina tombaram 11,7% no acumulado de janeiro a setembro ante os nove primeiros meses de 2022, diz a Abicalçados.

A indústria de higiene pessoal, que também tem no país vizinho o principal destino de suas exportações, não relatou agravamento dos problemas nos últimos meses, mas ressaltou que, desde 2020, a situação vem se mostrando “desafiadora”. “A principal dificuldade é a falta de divisas, consequência da escalada inflacionária”, afirmou a Abihpec, entidade do setor, em nota.

As exportações da indústria de transformação caíram 1,9% em valor de janeiro a setembro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). Em setembro, porém, tombaram 23,5% em valor, ante igual mês do ano passado, após queda de 15,3% em agosto.

A média diária de exportações da indústria de transformação nas duas primeiras semanas de outubro está 2% abaixo de igual mês do ano passado, segundo a Secex. As vendas de veículos estão piores: a média diária está 10% abaixo de outubro de 2022.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Eleições na Argentina: veja datas, como funciona e quem são os principais candidatos
Comboio com ajuda humanitária entra na Faixa de Gaza
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play