Sábado, 18 de maio de 2024

Caso de Bruce Willis, cuja demência se tornou pública, inspira livro escrito por sua mulher e é referência

No filme “Corpo fechado”, lançado em 2000, o diretor M. Night Shyamalan conta a história de como um homem aparentemente comum descobre ter superpoderes. Para viver esse personagem, elegeu Bruce Willis, na época um super-herói das bilheterias. Mas e quando esse herói precisa encarar a própria finitude de um jeito que nunca imaginou? É o que acontece com o ator, de 69 anos, uma das maiores estrelas do cinema de ação das décadas de 1980 e 1990, agora impedido de trabalhar por causa de demência frontotemporal.

Sua condição se tornou pública em março de 2022 e é recorrentemente discutida nas redes sociais da família, sobretudo a de Emma Heming Willis, casada com ele desde 2009. É esta história que ela pretende contar em um novo livro, anunciado em abril, com previsão de chegada às livrarias ano que vem. A ideia de Emma é revelar detalhes sobre a atual realidade de Willis e expor como ela, sua principal cuidadora, lidou com as transformações na própria vida. “Quando a gente não cuida de nós mesmos, não podemos cuidar dos outros”, postou Emma em redes sociais. “Preciso diariamente fazer um esforço consciente para viver a melhor vida que posso.” O livro vai sair pela editora Penguin Random House.

Gente como a gente

Em março de 2022 foi divulgado que Bruce Willis estava se afastando do cinema por causa de uma afasia, disfunção que atrapalha a fala. Um ano depois, a família trouxe a público o diagnóstico de demência frontotemporal, condição neurodegenerativa que afeta a linguagem e o comportamento. Na época, diretores e atores que trabalharam com ele nos últimos anos revelaram terem se preocupado, nos bastidores, com a saúde do ator. Ele não parecia, nem de longe, com John McClane, de “Duro de matar”, que virou de cabeça para baixo a noção de herói de Hollywood em 1988.

“Até então, o público tinha como herói dos filmes de ação atores como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, homens muito fortes”, diz o crítico de cinema Mario Abbade. “O cara comum não se sentia representado. Ele pensava: ‘Nunca vou ser um Stallone com esse corpo.’ Mas aí chega o Bruce Willis, já ficando meio calvo, e consegue colocar o homem mais comum nessa posição.”

Willis havia feito sucesso na série “A gata e o rato”, mas ainda era inexperiente no cinema. O que, segundo o crítico, acabou se revelando um trunfo para brincar com as expectativas da plateia.

“Como o grande público não o conhecia, pensava-se que ele podia morrer a qualquer momento nos filmes, mesmo em Duro de matar 2 (1990)”, diz Abbade. “Stallone, por exemplo, podia enfrentar um dragão e você sabia que ele não ia morrer. Nem o James Bond.”

Esta imagem de herói despretensioso, construída ao longo de 35 anos, tem agora sido usada, sob intermédio da família, para a discussão sobre as demências e os impactos delas no ambiente familiar. Bruce tem cinco filhos: três filhas do casamento com Demi Moore (Rumer, de 35 anos; Scout, de 32; e Tallulah, de 30). Com Emma, ele tem duas meninas: Mabel, de 12, e Evelyn, de 10. As mais velhas, a ex e atual mulher tratam do assunto sem muitos pudores, o que, na visão de especialistas, contribui para derrubar estigmas.

Esconder é pior

Neurologista e professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Bertolucci acredita que, quanto mais se fala abertamente sobre o assunto, mais o círculo social e a sociedade como um todo ficam acostumados às mudanças comportamentais que vão acontecendo progressivamente com determinados tipos de demência. Isso evita interpretações e julgamentos errôneos.

“Vejo famílias ocultando as demências o quanto podem”, diz Bertolucci. “Esconder elas podem, mas tem um custo de energia que não sei se compensa muito. Bruce Willis e sua família, como celebridades, podem ajudar outras pessoas a decidir sobre contar. Quando se fala abertamente sobre o assunto, todos entendem melhor, por exemplo, quando acontecer alguma coisa estranha.”

Exemplo a ser seguido

Segundo o professor da Unifesp, frontotemporal é uma das demências menos recorrentes, não chega a 5% dos casos. Alzheimer é responsável por entre 50% a 60% dos casos de demência, seguida pela vascular (cerca de 30%) e de Lewy (por volta de 15%). Cada uma com determinadas especificidades, todas impactam as rotinas de quem está ao redor. Escrever sobre e para os cuidadores, como planeja Emma, também é comemorado.

“As pessoas não precisam esconder as dificuldades, e a troca de informação fortalece muito. Esse tipo de livro ajuda muito na saúde mental”, diz Elizabeth Barham, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. “Quem cuida se sente em um papel importante.”

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