Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Com gestos concretos e mudanças no discurso, presidenciáveis tentam se aproximar de evangélicos

Representando hoje cerca de um terço da população e considerado decisivo para a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, o eleitorado evangélico já atrai o foco de presidenciáveis na pré-campanha para 2022. Com taxas de aprovação superiores entre os integrantes dessas denominações, Bolsonaro busca na reta final do mandato entregar ações concretas voltadas para este público, como a indicação de André Mendonça, ex-advogado-geral da União e pastor presbiteriano para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Já o ex-presidente Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) atuam para contornar resistências, modulando o discurso para evitar pautas identitárias. Assim como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), eles pretendem mirar problemas econômicos que atingem especialmente os evangélicos mais pobres. O ex-juiz Sergio Moro (Podemos), por sua vez, está montando um núcleo em sua equipe para fazer a interlocução com o segmento.

Aceno ao grupo

Recém-filiado ao Podemos e de olho na disputa pelo Planalto no ano que vem, Moro convidou o presidente da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure), Uziel Santana, para coordenar um núcleo de ações e agendas visando a este segmento. Santana diz que se licenciou da Anajure, pois a entidade “não se vincula a partidos políticos”, e deve aceitar formalmente o convite do ex-juiz da Lava-Jato em breve.

Em seu discurso de filiação ao Podemos, em novembro, Moro já havia feito acenos aos evangélicos, ao defender a necessidade de “proteger a família” e dar “uma sólida formação moral”.

“O segmento cristão tem uma agenda que vai para além das pautas de costumes. É só ver que igrejas são fundadoras de instituições como escolas, hospitais, projetos para a população miserável. Essa é uma tônica (de campanha) que tenho conversado com Moro”, disse Santana.

No campo da centro-esquerda, embora as cúpulas de grandes igrejas como a Assembleia de Deus de Madureira e a Universal tenham apoiado gestões do PT, a possibilidade de atrair novamente essas lideranças, mais ligadas hoje à pauta de costumes e ao bolsonarismo, é tratada como remota. Nesse contexto, Lula e Ciro têm apostado em adesões pontuais e procurado estabelecer pontes com igrejas menores, além de alas chamadas “progressistas”.

Em junho, Lula chegou a se reunir no Rio com o bispo Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus de Madureira, em um sítio do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano (PT). Após o vazamento do encontro, outras lideranças políticas e religiosas ligadas à igreja, e que apoiam Bolsonaro, alegaram que se tratou de uma visita de “cortesia” e que não mudaria o apoio à reeleição do atual presidente.

Lula cogitou uma “carta aos evangélicos”, mas tem se dedicado por ora a encontros virtuais. Em um deles, na semana passada, com lideranças evangélicas simpatizantes do PT, o ex-presidente deu o tom da campanha e focou na defesa de políticas públicas implementadas nos governos petistas que beneficiaram moradores da periferia, áreas com forte presença das igrejas. As pautas identitárias, que desagradam os evangélicos e estiveram presentes na campanha do PT em 2018 , devem ficar de fora do discurso de Lula em 2022.

“A reunião foi importante para mostrar que ele terá uma relação republicana com as lideranças religiosas, da forma que teve no período em que governou o País”, afirma o pastor Ariovaldo Ramos, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Encontros

Ciro Gomes, que tem feito acenos aos evangélicos nas redes sociais, deve fazer uma rodada de encontros com representantes de igrejas de pequeno e médio porte. Em junho, o pedetista gravou um vídeo segurando lado a lado a Constituição e a bíblia, e defendeu que os livros não são “conflitantes”.

Doria, escolhido pré-candidato do PSDB nas prévias, começa a montar sua estratégia mirando uma possível conexão com eleitores evangélicos de baixa renda através de programas sociais do governo paulista, como o Bolsa do Povo e o vale-gás, em uma linha parecida com a de Lula.

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