Sábado, 25 de janeiro de 2025

Com samba, Bolsonaro lança candidatura de ex-diretor da Polícia Federal a prefeito do Rio

Em uma das entradas da quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro, os bicheiros Rogério Andrade e Castor de Andrade – patrono da escola de samba e banqueiro do jogo do bicho morto em 1997, aos 71 anos – estampam um banner de dois metros no mezanino do “Maracanã do Samba” com a frase: “O que é nascido de Deus vence o mundo”. No mesmo local, a menos de cem metros, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) estrelam as peças do PL para o lançamento da pré-candidatura do delegado da Polícia Federal à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais deste ano.

Ligada ao clã dos bicheiros Andrade, a Mocidade ofereceu ao PL que o ato fosse realizado na quadra da escola de samba sem custos. O partido, no entanto, recusou a oferta e afirmou ter pago cerca de R$10 mil pelo aluguel do espaço.

Sob a frase “Um novo Rio começa agora”, Bolsonaro e Ramagem posaram no palco ao lado de aliados e correligionários na manhã deste sábado, 16, para o ato político um dia após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar o sigilo dos depoimentos de militares citados no plano de golpe de Estado arquitetado, segundo indicam as investigações, pelo ex-chefe do Executivo e seus comandados.

Figuras de peso do PL e próximas ao ex-presidente ficaram de fora do ato em tom de comício eleitoral para não descumprirem decisão da Justiça. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, foi um dos medalhões que não esteve na quadra da escola de samba. Moraes proibiu os investigados no inquérito sobre a tentativa de golpe de se comunicarem. O general Walter Braga Netto, que chegou a ser cotado para disputar a Prefeitura do Rio e busca fincar o seu nome entre eleitores da cidade, também não compareceu.

Público pequeno

Marcado para começar às 11h, o evento reunia menos da metade da capacidade da quadra de samba às 11h30. Incomodado com a baixa adesão, Bolsonaro pediu que os seguranças do local autorizassem que os apoiadores se aproximassem do palco: “se algo acontecer, a responsabilidade é minha”.

No ato, Ramagem louvou Bolsonaro e disse que recebia do ex-presidente a missão de “tirar a esquerda do poder do Rio de Janeiro” e “tirar esses soldados do Lula da cúpula do Rio”.

Além dos figurões com restrições judiciais, apenas o senador Romário (PL), entre os nomes influentes da legenda na política carioca, não compareceu ao ato. O governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL) – alvo de vaias no evento–, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, deputados federais e estaduais estiveram ao lado de Bolsonaro no palco da escola do Castor.

Sem um plano B para a disputa à Prefeitura da capital fluminense, o PL decidiu manter o nome de Ramagem na disputa mesmo após a operação “Vigilância Aproximada”, da Polícia Federal (PF), colocar o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no centro das suspeitas de um esquema de espionagem ilegal de opositores do governo Bolsonaro.

Sigilo quebrado

A operação da PF e as revelações de indícios de participação do ex-presidente no plano de golpe de Estado arquitetado para impedir a posse do presidente Lula representam um desgaste de partida para a pré-candidatura de Ramagem. Líderes do PL e aliados do ex-chefe do Executivo avaliam, no entanto, que as investigações, por enquanto, não têm forças para barrar a candidatura do deputado.

Suspeito de tramar um plano de golpe de Estado, Bolsonaro afirmou, durante o evento, que “não tem medo de qualquer julgamento” e que “poderia estar em um outro País”, mas decidiu voltar ao Brasil em março do ano passado, depois de três meses nos Estados Unidos, mesmo considerando estar sob “risco”.

Clã Andrade

Rogério é sobrinho de Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel. O contraventor é apontado como herdeiro de parte dos negócios de Castor no jogo do bicho e em máquinas caça-níqueis. Ele já foi acusado de crimes como formação de quadrilha, corrupção ativa e contrabando, e sofreu pelo menos dois outros atentados.

O contraventor foi preso em agosto de 2022 em uma das fases da Operação Calígula, suspeito de chefiar uma organização criminosa que pagaria propina a policiais e integrada, entre outros, por Ronnie Lessa, preso preventivamente pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Andrade ficou no presídio de Bangu 8 até dezembro, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) substituiu sua prisão por medidas cautelares.

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