Quinta-feira, 03 de julho de 2025

Como a economia global pode ajudar novamente o governo Lula

O início da nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem tido uma ajuda inesperada da economia global. Na virada do ano, o que boa parte dos analistas esperava era uma atividade mundial bem mais fraca do que os últimos indicadores têm revelado.

A conjuntura mais positiva deve fazer com que o Brasil colha um novo ano de bom resultado da balança comercial. Uma parte dos bancos e consultorias prevê um superávit acima de US$ 70 bilhões em 2023, o que marcará um recorde se confirmado.

O estágio atual da economia está longe de ter como pano de fundo a forte expansão observada na primeira década dos anos 2000, fundamental para sustentar o crescimento econômico nos dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010). Mas o fato de o mundo ter se mostrado resiliente neste início de ano pode ajudar a repetir, ainda que em uma escala menor, o ambiente internacional favorável enfrentado pelo petista no passado.

“Há sinais de desaceleração na atividade global, mas não é um colapso”, afirma Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco.

Os analistas ainda tentam entender o que explica essa força acima do esperado na atividade global. O mundo lida com um cenário pouco comum. Enquanto a confiança de consumidores e empresários está em queda – o que indica uma menor propensão para investir e comprar –, os dados de atividade, sobretudo no setor de serviços, ainda não apresentaram uma desaceleração tão acentuada.

Poupança e China

Uma das hipóteses que pode ajudar a decifrar esse desempenho tem a ver com os estímulos monetários e fiscais concedidos no auge da pandemia e a poupança feita pelas famílias nesse período. “O consumidor pode ter um excesso de poupança que veio do fiscal na pandemia, e o mercado de trabalho ainda segue forte”, afirma Kaian Oliveira, economista internacional da Parcitas Investimentos. “Nos Estados Unidos, o ponto final é a recessão, mas pode ser que ela demore por causa dessa força do consumidor.”

Nos EUA, mesmo com a alta das taxas de juros, o cenário de recessão tem sido postergado sucessivamente. Já foi projetado para ocorrer no segundo trimestre de 2023. Agora, a previsão é mais para o fim deste ano ou início de 2024. “Chegamos a ter um PIB para os Estados Unidos que era de um crescimento perto de 0,3%, 0,5%. Hoje, estamos com um PIB mais para 1%, podendo até ser mais do que isso”, afirma Fernando Honorato, economista-chefe do banco Bradesco.

Em 2023, o mundo também se beneficiou da rápida reabertura da China, que abandonou a sua política de covid zero. “Esse movimento de reabertura foi agressivo, puxando as projeções de crescimento do país, que hoje estão próximas de 6%”, diz Eduardo Jarra, economista-chefe da Santander Asset Management.

Para os próximos meses, no entanto, existe uma dúvida entre os economistas sobre a capacidade chinesa de manter um bom ritmo de crescimento. “Com os dados que temos, imaginamos uma desaceleração no segundo trimestre, mas um crescimento acima da capacidade potencial.”

Peso da China

Na história recente do comércio exterior brasileiro, a China desempenha um papel fundamental. É uma grande importadora de produtos básicos, como soja e minério de ferro, e se transformou no principal parceiro comercial do Brasil.

A economia brasileira começou a registrar robustos resultados comerciais no início dos anos 2000, quando o gigante asiático ingressou no comércio internacional e passou a crescer de forma mais acelerada – em alguns anos, o avanço do PIB superou 10%. De 2001 a 2022, as exportações de produtos básicos do Brasil cresceram de US$ 23,8 bilhões para US$ 158,9 bilhões, de acordo com dados tabulados pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Hoje, os sinais de desaceleração da economia global levam a uma queda nos preços, que subiram de forma acelerada depois de superada a fase mais aguda da crise sanitária. O Brasil, no entanto, tem conseguido compensar essa redução com o aumento na quantidade de produtos vendidos. O País colheu uma supersafra de grãos e é dono de um agronegócio que se destaca pela sua elevada produtividade.

“O Brasil está performando bem por conta própria, pelos próprios méritos”, afirma Fabio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset. ”Houve um choque de oferta no setor exportador. É o que chamo de milagre de multiplicação. Consegue dar uma turbinada no PIB, simultaneamente alivia a inflação e beneficia as contas externas.”

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