Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Contra boatos, especialistas defendem vacinação de crianças

Na última sexta-feira (12), a Pfizer submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de aprovação para o uso de sua vacina contra covid-19 em crianças de 5 a 12 anos. A Anvisa tem um mês para emitir seu parecer, mas o recente aval por outra agência regulatória rigorosa, a Food and Drug Administration (FDA), que autoriza medicamentos nos EUA, traz boa perspectiva para a aplicação pediátrica do imunizante no Brasil.

Bastou que a aprovação se tornasse iminente por aqui, no entanto, para surgir um infame efeito colateral: a disseminação de fake news sobre vacinação nessa faixa etária. Os boatos mais propagados incluem alegações sobre o risco de miocardite (uma rara inflamação cardíaca) e afirmações de que a imunização deste público seria desnecessária porque a doença é branda nas crianças.

Especialistas discordam. Eles são categóricos em dizer que a vacinação de crianças contra a covid é segura e necessária.

“Quem acha que criança não precisa ser vacinada, que a vacina oferece mais risco do que benefício, está equivocado”, afirma o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Mortes evitáveis

O especialista explica que, em comparação com os adultos, as crianças são menos acometidas pela covid-19. Mas o risco não é irrisório. Desde o começo da pandemia, mais de 2 mil crianças e adolescentes morreram por conta da doença no país.

“Hoje, a covid é a doença prevenível por vacina que mais mata crianças e adolescentes. Ela já matou mais do que a soma de todas as mortes por doenças infantis para as quais existem vacinas, como sarampo, coqueluche, difteria, febre amarela, gripe, meningite, diarreia e pneumonia”, destaca Kfouri.

Uma das principais preocupações é sobre os possíveis efeitos colaterais dos imunizantes nessa faixa etária. Em especial a miocardite, uma inflamação no coração de ocorrência rara cujo aparecimento em adolescentes foi associado ao uso das vacinas de mRNA, caso dos imunizantes da Pfizer/BioNTech e da Moderna.

Para o geneticista Salmo Raskin, presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria, não há motivo para medo. Embora as vacinas feitas pela Pfizer/BioNTech e Moderna pareçam estar associadas a um perigo aumentado de miocardite, o risco absoluto permanece muito pequeno. Além disso, a maioria dos casos da doença é leve e a chance de desenvolver a inflamação por conta da covid-19 é maior.

O médico lembra que a dose para crianças é um terço daquela destinada a adolescentes e adultos, o que aumenta o perfil de segurança.

É fundamental ressaltar que a vacinação contra o novo coronavírus em crianças não protege somente contra mortes. Embora esse seja o benefício mais importante, ela também reduz a transmissão da doença, hospitalizações, covid longa e síndrome multissistêmica inflamatória pediátrica.

Um estudo publicado na revista Journal of Infectious Diseases em outubro mostrou que bebês, crianças e adolescentes têm a mesma capacidade de adultos de carregar altos níveis do SARS-CoV-2 nas vias nasais e transmiti-lo a outros.

Eficácia da pfizer

Na semana passada, o estudo de fase 3 com a vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos foi publicado na revista New England Journal of Medicine. A vacina ofereceu uma proteção de 90,7%.

“Sabemos que quanto menor a idade, mais robusta é a resposta imune, por isso é possível reduzir a concentração e/ou a quantidade de doses”, explica Kfouri.

A avaliação para aprovar o uso de uma vacina em crianças é tão ou mais rigorosa do que em adultos. A Anvisa já sinalizou isso. Em agosto, a agência negou o pedido do Instituto Butantan para aplicação da Coronavac na faixa de 3 a 17 anos. Na época, os técnicos entenderam que os dados apresentados não eram suficientes.

A Coronavac é feita com o vírus inativado, que é a tecnologia utilizada em diversas vacinas já consagradas.

“Ela parece ser uma ótima alternativa para crianças, mas precisamos de mais dados”, diz Salmo Raskin.

No início do mês, o Butantan levou à agência novos dados coletados na China relativos a menores de 17 anos. Mas ainda não foi submetido outro pedido de aprovação.

O uso pediátrico da Coronavac já acontece no Chile, China, Equador e Indonésia. O imunizante da Pfizer está aprovado em crianças com menos de 12 anos no Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Israel.

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