Domingo, 12 de maio de 2024

Crescem no País as mortes por transtorno mental ligado ao álcool

O número de mortes por transtornos mentais associados ao uso abusivo de álcool vem aumentando no País desde o início da pandemia de covid, com média de 8,5 mil óbitos anuais no período de 2020 a 2022, um crescimento de 33% em relação a 2019, quando esse número ficou em 6,4 mil.

Quando considerada a taxa de óbitos por 100 mil habitantes, também houve alta significativa ao longo dos últimos anos. Comparando o número de mortes de 2010 e 2022, anos das últimas duas edições do Censo (que tem dados populacionais mais confiáveis), o índice subiu 12,6%, passando de 3,71 para 4,18.

Os dados fazem parte de levantamento feito pelo Estadão no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e mostram ainda que o aumento de óbitos pelo consumo abusivo de bebidas alcoólicas ocorreu sobretudo entre os brasileiros mais velhos, principalmente os idosos.

Enquanto entre os adultos com idade até 49 anos houve queda de óbitos por essa causa, entre os indivíduos a partir dos 50 anos o aumento foi de 38,7%. Essa faixa etária concentrou, em 2022, 65% das mortes associadas ao uso de álcool – em 2010, esse índice foi de 49%.

O envelhecimento populacional explica parte desse crescimento, já que, quando a expectativa de vida era menor no País, mesmo pessoas que abusavam do álcool poderiam morrer de outras causas antes que a bebida levasse a uma complicação fatal.

Mas essa não é a única explicação, segundo especialistas. A pandemia de covid teve (e ainda tem) efeitos sobre a saúde mental que levaram muitos a buscar no álcool um alívio para o luto, a angústia, o medo e a solidão. “De forma geral, houve um aumento de quadros de ansiedade, depressão e transtornos mentais”, diz Ronaldo Laranjeira, professor titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Vimos que quem usava de forma moderada começou a usar de forma abusiva. Os que já usavam de forma abusiva foram para um padrão de dependência”, diz Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

Idosos

Além do envelhecimento populacional e dos impactos da pandemia, outros fatores ajudam a explicar o aumento mais expressivo de óbitos entre os mais velhos. De acordo com Mariana Thibes, coordenadora do Cisa e doutora em sociologia, as alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento deixam os idosos mais vulneráveis aos efeitos nocivos do álcool porque o metabolismo das substâncias fica mais lento, o que aumenta o risco de danos.

“O álcool também pode interagir mal com medicamentos prescritos que muitos idosos tomam para doenças crônicas. O uso indevido pode causar ainda quedas e lesões, exacerbar condições médicas subjacentes e piorar o declínio da cognição”, destaca a especialista.

Ela diz que, somadas às questões fisiológicas e orgânicas, situações como solidão e isolamento, dificuldades em lidar com a aposentadoria e a piora da saúde na velhice criam “um cenário propício para muitas pessoas lançarem mão do álcool como uma ferramenta equivocada” para enfrentar esses desafios.

Além dos idosos, outro grupo que preocupa os médicos é o das mulheres. Embora 90% dos mortos por transtornos mentais relacionados ao uso de álcool sejam homens, os especialistas veem um crescimento do consumo abusivo entre o sexo feminino.

“Com a conquista de mais liberdade e com mais mulheres no mercado de trabalho, a indústria se aproveitou para focar nesse público, com propagandas mais direcionadas, patrocínios de eventos de mulheres, bebidas com embalagens e sabores mais atrativos”, destaca a psiquiatra Patrícia Hochgraf, coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Ela diz que, além das jovens, que começam a fazer uso em eventos sociais, outro grupo que exige maior atenção é o das mulheres na menopausa. “É um momento que a mulher passa por mudanças e pode também estar vivendo a saída de um filho de casa, fica com aquela síndrome do ninho vazio”, diz. “Também já vi muitos casos de mulheres que começam a beber por causa de insônia”, afirma.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

Crescem no País as mortes por transtorno mental ligado ao álcool

O número de mortes por transtornos mentais associados ao uso abusivo de álcool vem aumentando no País desde o início da pandemia de covid, com média de 8,5 mil óbitos anuais no período de 2020 a 2022, um crescimento de 33% em relação a 2019, quando esse número ficou em 6,4 mil.

Quando considerada a taxa de óbitos por 100 mil habitantes, também houve alta significativa ao longo dos últimos anos. Comparando o número de mortes de 2010 e 2022, anos das últimas duas edições do Censo (que tem dados populacionais mais confiáveis), o índice subiu 12,6%, passando de 3,71 para 4,18.

Os dados fazem parte de levantamento feito pelo Estadão no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e mostram ainda que o aumento de óbitos pelo consumo abusivo de bebidas alcoólicas ocorreu sobretudo entre os brasileiros mais velhos, principalmente os idosos.

Enquanto entre os adultos com idade até 49 anos houve queda de óbitos por essa causa, entre os indivíduos a partir dos 50 anos o aumento foi de 38,7%. Essa faixa etária concentrou, em 2022, 65% das mortes associadas ao uso de álcool – em 2010, esse índice foi de 49%.

O envelhecimento populacional explica parte desse crescimento, já que, quando a expectativa de vida era menor no País, mesmo pessoas que abusavam do álcool poderiam morrer de outras causas antes que a bebida levasse a uma complicação fatal.

Mas essa não é a única explicação, segundo especialistas. A pandemia de covid teve (e ainda tem) efeitos sobre a saúde mental que levaram muitos a buscar no álcool um alívio para o luto, a angústia, o medo e a solidão. “De forma geral, houve um aumento de quadros de ansiedade, depressão e transtornos mentais”, diz Ronaldo Laranjeira, professor titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Vimos que quem usava de forma moderada começou a usar de forma abusiva. Os que já usavam de forma abusiva foram para um padrão de dependência”, diz Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

Idosos

Além do envelhecimento populacional e dos impactos da pandemia, outros fatores ajudam a explicar o aumento mais expressivo de óbitos entre os mais velhos. De acordo com Mariana Thibes, coordenadora do Cisa e doutora em sociologia, as alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento deixam os idosos mais vulneráveis aos efeitos nocivos do álcool porque o metabolismo das substâncias fica mais lento, o que aumenta o risco de danos.

“O álcool também pode interagir mal com medicamentos prescritos que muitos idosos tomam para doenças crônicas. O uso indevido pode causar ainda quedas e lesões, exacerbar condições médicas subjacentes e piorar o declínio da cognição”, destaca a especialista.

Ela diz que, somadas às questões fisiológicas e orgânicas, situações como solidão e isolamento, dificuldades em lidar com a aposentadoria e a piora da saúde na velhice criam “um cenário propício para muitas pessoas lançarem mão do álcool como uma ferramenta equivocada” para enfrentar esses desafios.

Além dos idosos, outro grupo que preocupa os médicos é o das mulheres. Embora 90% dos mortos por transtornos mentais relacionados ao uso de álcool sejam homens, os especialistas veem um crescimento do consumo abusivo entre o sexo feminino.

“Com a conquista de mais liberdade e com mais mulheres no mercado de trabalho, a indústria se aproveitou para focar nesse público, com propagandas mais direcionadas, patrocínios de eventos de mulheres, bebidas com embalagens e sabores mais atrativos”, destaca a psiquiatra Patrícia Hochgraf, coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Ela diz que, além das jovens, que começam a fazer uso em eventos sociais, outro grupo que exige maior atenção é o das mulheres na menopausa. “É um momento que a mulher passa por mudanças e pode também estar vivendo a saída de um filho de casa, fica com aquela síndrome do ninho vazio”, diz. “Também já vi muitos casos de mulheres que começam a beber por causa de insônia”, afirma.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

Apenas 11% das doses da vacina contra a dengue distribuídas no País foram aplicadas nas primeiras semanas da campanha de imunização
Baleia-azul volta a ser o animal mais pesado de todos os tempos
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play