Sábado, 05 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de dezembro de 2023
Em um intervalo de dois anos – agosto de 2021 a outubro de 2023, um estudo liderado pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Ministério da Saúde, identificou que a taxa de pessoas com sífilis ativa em Porto Alegre é de 3,74%. Isso corresponde a 1.870 casos por 100 mil habitantes a cada ano, índice muito superior às notificações oficiais.
A pesquisa é identificada pela sigla “SIM” (“Saúde, Informação e Monitoramento”) e tem como foco infecções sexualmente transmissíveis (IST). Trata-se de em um ensaio clínico cuja finalidade é avaliar duas estratégias diferentes para aumentar a adesão ao tratamento e ao monitoramento da sífilis.
Uma utiliza a técnica conhecida como “gamificação”, por meio de um jogo. Já a outra se dá por meio de telefonemas. Os participantes recebem lembretes para realizarem as doses de penicilina, fazer exames de acompanhamento e informar parceiros. As duas intervenções são comparadas ao tratamento convencional na unidade de saúde. Foram convidados a participar do estudo pessoas com teste confirmatório para sífilis reagente.
Para encontrar essas pessoas, as equipes realizaram testagem da população de Porto Alegre. Os testes eram aplicados em uma unidade móvel, alocada em áreas de grande circulação – como o Centro Histórico e o Parque da Redenção, com acesso espontâneo dos participantes.
Além de responder um questionário, eram submetidos a testes de sífilis, de HIV e das hepatites B e C. Se o resultado fosse positivo para sífilis reagente (ou seja, aponta que já houve contato com a sífilis ou que o vírus está ativo), as pessoas realizavam a coleta de sangue para confirmação do diagnóstico e a primeira dose de penicilina já no local.
Foram realizados 10.878 testes de sífilis, HIV e hepatites (B e C) durante o período do estudo. Dentre os testados, 55,7% eram mulheres. O percentual de testes rápidos reagentes para sífilis foi de 14,3%. Das 10.878 pessoas, 1.559 tiveram resultados reagentes positivos.
A partir daí, esses indivíduos foram procurados pela equipe de pesquisa para que fizessem o exame de sangue, a fim de confirmar o resultado. No total, 1.053 pessoas passaram pela segunda etapa, resultando em 543 exames positivos. Como alguns resultados foram discordantes, as amostras foram submetidas ao teste TPHA, mais sensível e específico, que apontou 407 casos de sífilis ativa em Porto Alegre.
Investigadora principal do SIM, a médica epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento, comenta:
“ Quando se compara ao Boletim Epidemiológico nº 86, da Secretaria Municipal da Saúde, com índices de 135,5 casos a cada 100 mil habitantes em 2021, e de 52,7 no ano seguinte, o SIM encontrou 1.870 casos por 100 mil habitantes. É um número bastante significativo e que mostra o quanto ainda não diagnosticamos a sífilis. O que vemos nos boletins é só uma ponta do iceberg”
Os dados também mostram que a doença é um agravo de determinação social: “Em geral, são homens, autodenominados pretos ou pardos, das classes sociais mais baixas (C ou D-E), com menos de 45 anos, separados, divorciados ou viúvos.
O uso de preservativo foi extremamente baixo entre os positivos – somente 9% disseram usar”, destaca Eliana. Como o diagnóstico de sífilis é cumulativo ao longo dos anos, as taxas de infecção entre pessoas com mais de 60 anos é alta, representando 19,3% dos testes rápidos reagentes.
“São pessoas mais vulnerabilizadas, mais pobres, pretas e pardas, com menor escolaridade, menor renda, e que acabam sofrendo um estigma muito grande. O uso de preservativo é baixíssimo e não conseguimos quebrar a cadeia de transmissão porque as pessoas não previnem a doença”, finaliza.
Dentre os participantes do estudo, apenas 51% completaram o tratamento. Para curar a sífilis, o tratamento é simples – e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Consiste em uma dose de penicilina benzetacil, que pode ser aplicada em qualquer unidade básica de saúde.
Doença
Infecção exclusiva do ser humano e curável, a sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. Sua transmissão de dá por relação sexual sem camisinha com pessoa infectada ou da mãe para a criança durante a gestação ou parto.
A doença pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios. Nos estágios primário e secundário, a possibilidade de transmissão é maior.
Se não for tratada, continua a avançar no organismo, causando manchas em várias partes do corpo (inclusive nas palmas das mãos e solas dos pés), queda de cabelos, cegueira, doença do coração e paralisias. Em grávidas, pode causar aborto ou má formação fetal.
(Marcello Campos)